Leia atentamente o poema a seguir:
“Lira XIX”
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia Natureza.
(...)
Repara como, cheia de ternura,
Entre as asas ao filho essa ave aquenta,
Como aquela esgravata a terra dura,
E os seus assim sustenta;
Como se encoleriza,
E salta sem receio a todo o vulto,
Que junto dele pisa.
Que gosto não terá a esposa amante,
Quando der ao filhinho o peito brando
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: “É esta
Do teu querido pai a mesma barba,
A mesma boca e testa.”
Que prazer não terão os pais, ao verem
Com as mães um dos filhos abraçados;
Jogar outros à luta, outros correrem
Nos cordeiros montados!
Que estado de ventura:
Que até naquilo, que de peso serve,
Inspira Amor doçura!
GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. Ed. crít. M. Rodrigues Lapa. São Paulo: Ed. Nacional, 1942. Livros do Brasil, 5)
Delimitando sua atenção na primeira e na terceira estrofes do poema transcrito acima, aponte a alternativa correta.
Nessas estrofes estão claras as características do Arcadismo, como a paixão desenfreada, a vida urbana agitada e a sensualidade.
As duas estrofes apresentam características do Arcadismo, como vida contemplativa, reconhecimento dos bons atributos da Natureza e amor entre duas pessoas, sem ignorar a sensualidade, como no binômio “esposa-amante”.
As duas estrofes representam apenas os devaneios da mãe orgulhosa ao ver que o filho se parece com o pai, o amante distante.
As duas estrofes contêm sentido oposto, uma vez que, na primeira estrofe, o eu do poema (eu lírico) convida sua amada para a contemplação reflexiva sobre a Vida e a Natureza e, na terceira, apenas exalta os prazeres amorosos e o desejo da mãe.
As duas estrofes contêm sentidos complementares, uma vez que a alegria do gado diante da natureza exuberante se reflete no semblante do poeta ao ver sua imagem refletida no rosto de seus futuros filhos.