Leia atentamente este soneto de autoria do poeta barroco Gregório de Matos.
A Jesus Cristo nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
GLOSSÁRIO: Despido = despeço / Cobrada = recuperada.
Fonte: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.313.
Nesse soneto, é INCORRETO afirmar que:
no verso inicial ocorre um paradoxo quando o eu-lírico faz uma afirmação contraditória e desafia o raciocínio lógico do leitor.
no primeiro terceto ocorre um hipérbato quando o poeta barroco produz uma inversão sintática na ordem convencional da frase.
no primeiro quarteto ocorre uma sátira quando o poeta “Boca do Inferno” afirma que é o pecador quem deve se empenhar em perdoar a Jesus.
no terceto final do poema ocorrem metáforas quando o eu-lírico é comparado a uma ovelha desgarrada, e Jesus é equiparado a um pastor.