Leia atentamente a crônica de Carlos Drummond de Andrade a seguir.
A incapacidade de ser verdadeiro
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. O sorvete e outras histórias. 2 ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 40).
A respeito dos elementos de articulação textual, responsáveis pela construção de sentidos, especificamente sobre a referência de pessoa, é correto afirmar que:
no segundo período do primeiro parágrafo, é apenas por meio da desinência verbal que se retoma o sujeito do anterior (Paulo).
no primeiro período do segundo parágrafo, a retomada desse mesmo sujeito (Paulo) ocorre sempre por meio de formas pronominais.
no segundo período do segundo parágrafo, o sujeito (Paulo) é retomado apenas pelo emprego repetido de seu nome.
no primeiro período do terceiro parágrafo, após uma marcação temporal, o sujeito (Paulo) é retomado de quatro formas distintas.
no período final da crônica, encontram-se duas formas distintas de retomada do sujeito (Paulo) em seu interior.