IFSudMinas 2014/2

Leia a seguir trechos de uma crônica de Luis Fernando Veríssimo.

 

Cultura

 

  Ele disse: “O teu sorriso é como o primeiro suave susto de Julieta quando, das sombras perfumadas

do jardim sob a janela insone, Romeu deu voz ao sublime Bardo e a própria noite aguçou seus ouvidos”.

  E ela disse: “Corta essa”.

  E ele disse: “A tua modéstia é como o rubor que assoma à face de rústicas campônias acossadas num

[5] quadro de Bruegel, pai, enaltecendo seu rubicundo encanto e derrotando o próprio simular de recato que a

natureza ao deflagrá-lo, quis”.

  E ela disse: “Cumé que é?”

  E ele disse: “Eu te amo como jamais um homem amou, como o Amor mesmo, em seu Autoamor, jamais

se considerou capaz de amar”.

[10]   E ela: “Tô sabendo...”

  “Tu és a chuva e eu sou a terra; tu és ar e eu sou fogo; tu és estrume, eu sou raiz”.

  “Pô!”

  “Desculpe. Esquece este último símile. Minha amada, minha vida. A inspiração é tanta que transborda e

me foge, eu estou bêbado de paixão, o estilo tropeça no meio-fio, as frases caem do bolso...”

[15]  “Sei...”

  “Os teus olhos são dois poços de águas claras onde brinca a luz da manhã, minha amada. A tua fronte é

como o muro de alabastro do templo de Zamaz-al-Kaad, onde os sábios iam roçar o nariz e pensar na

Eternidade. A tua boca é uma tâmara partida... Não, a tua boca é como um... um... Pera só um pouquinho...”

  “Tô só te cuidando”.

[20]   “A tua boca, a tua boca, a tua boca... (Uma imagem, meu Deus!)”

  “Que qui tem a minha boca?”

  “A tua boca, a tua boca... Bom, vamos pular a boca. O teu pescoço é como o pescoço de Greta Garbo na

famosa cena da nuca em Madame Walewska, com Charles Boyer, dirigido por Clarence Brown, iluminado

por...”

[25]   “Escuta aqui...”

  “Eu tremo! Eu desfaleço! Ela quer que eu a escute! Como se todo o meu ser não fosse uma membrana

que espera a sua voz para reverberar de amor, como se o céu não fosse a campana e o Sol o badalo desta

sinfonia especial: uma palavra dela...”

  “Tá ficando tarde”.

[30]   “Sim, envelhecemos. O Tempo, soturno cocheiro deste carro fúnebre que é a Vida. Como disse Eliot,

aliás, Yeats - ou foi Lampedusa? - , o Tempo esse surdo-mudo que nos leva às costas...”

  “Vamos logo que hoje eu não posso ficar toda a noite”.

  [...]

“Já sei!”

[35]   “O quê? Volta aqui, pô...”

  “Como um punhado de amoras na neve das estepes. A tua boca é como um punhado de amoras na neve

das estepes!”

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Cultura. In: As mentiras que os homens contam. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 149-151.

Marque a alternativa CORRETA que expressa a situação da vida cotidiana retratada pela crônica de Veríssimo.

a

Trata-se de um diálogo entre um casal que quer mimetizar a linguagem de séculos anteriores.

b

Trata-se de um diálogo entre um casal que precisa refletir sobre o amor.

c

Trata-se de uma situação de ironia por parte da personagem masculina. 

d

Trata-se de uma situação de ironia por parte da personagem feminina.

e

Trata-se de uma situação de paquera, de tentativa de sedução.

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E
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