Leia a seguinte letra de uma canção.
“Disseram que eu voltei americanizada”
“E disseram que eu voltei americanizada
Com o burro do dinheiro
Que estou muito rica
Que não suporto mais o breque do pandeiro
E fico arrepiada ouvindo uma cuíca
Disseram que com as mãos
Estou preocupada
E corre por aí
Que eu sei certo zum-zum
Que já não tenho molho, ritmo, nem nada
E dos balangandans já nem existe mais nenhum
Mas pra cima de mim, pra que tanto veneno?
Eu posso lá ficar americanizada?
Eu que nasci com o samba e vivo no sereno
Topando a noite inteira a velha batucada
Nas rodas de malandro minhas preferidas
Eu digo mesmo eu te amo, e nunca I love you
Enquanto houver Brasil
Na hora das comidas
Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu!”
(Luís Peixoto e Vicente Paiva)
A letra foi elaborada para a interpretação de Carmen Miranda, que a gravou em 1940, e responde a acusações da mídia e de setores da sociedade de que, como símbolo da cultura nacional, a cantora estaria se “americanizando”.
Essa polêmica faz parte de um contexto histórico maior, ocorrido durante a chamada “política da boa vizinhança” da ditadura de Getúlio Vargas, que consistia em/na:
um plano para atrair o apoio político dos Estados Unidos à ditadura de Vargas; consistia em demonstrar a vasta produção cultural nacional e seu poder mercadológico em países estrangeiros.
percepção de como a cultura é parte importante na construção de uma nação; com isso, o governo dos Estados Unidos solicitou à América Latina exemplos culturais para serem integrados na sociedade estadunidense.
aproximação cultural entre o Brasil e os EUA em um período anterior à Segunda Guerra Mundial e de simpatia por governos autoritários, o que atrapalharia a intenção hegemônica estadunidense no País.
construção de símbolos nacionais artificializados, condizentes com o ufanismo fascista pensado por Vargas, e que, durante as tensões pré-Segunda Guerra Mundial, foram apropriados indevidamente pelos EUA.
valorização das matérias-primas brasileiras, formando arquétipos da cultura nacional e financiando suas apresentações em países com grande potencial de compra, como os Estados Unidos, como forma de divulgar a nação.