Leia a crônica de Paulo Mendes Campos e responda à questão.
Chatear e encher
[1] Um amigo meu me ensina a diferença entre chatear e encher. Chatear é assim: você telefona para um escritório
qualquer da cidade.
- Alô! Quer chamar por favor o Valdemar?
- Aqui não tem nenhum Valdemar.
[5] Daí alguns minutos você liga de novo:
- O Valdemar, por obséquio.
- Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
- Mas não é o número tal?
- É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.
[10] Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
- Por favor, o Valdemar já chegou?
- Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo do Valdemar nunca trabalhou aqui?
- Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
- Não chateia.
[15] Daí a dez minutos, liga de novo.
- Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:
- Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou para mim?
(Para gostar de ler. Vol. 5. São Paulo: Ática, 1990.)
Na crônica são construídas relações envolvendo narrador e personagens.
Sobre o assunto, assinale a afirmativa correta.
A fala – É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar. sinaliza o início da perda de paciência da pessoa que atende ao telefone.
Desde o início do texto, a pessoa que telefona mostra-se irritada com quem fala.
O uso do artigo o antes de Valdemar revela o distanciamento entre Valdemar e a pessoa que o procura.
O autor cria uma relação lúdica entre Valdemar e os funcionários do escritório.
A presença da datilógrafa é motivo para que o funcionário que atende ao telefone mantenha, durante a conversa, comportamento polido.