Leia a análise sobre o filme "Memórias do cativeiro" (2005, 43 min.) e responda à questão proposta sobre estas memórias da família, trabalho e cidadania entre os negros de origem africana no Brasil no pós-Abolição
O filme apresenta uma concatenação bastante eclética de depoimentos de indivíduos de diversas regiões do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de São Paulo (...) Os mais velhos dos depoentes nasceram nas primeiras duas décadas do século XX, e suas falas evocam memórias de seus pais, avós e bisavós, ou seja, de duas a três gerações prévias, remontando cronologicamente a meados do século XIX. (...) A memória do cativeiro é geralmente silenciada (...) Esse tempo vem marcado, sobretudo, pela memória do castigo, da violência exercida sobre o corpo escravizado. (...) A essa memória do castigo se une a da resistência, das fugas, dos ardis para escapar do controle senhorial. Os poderes sobrenaturais dos africanos, por exemplo, são evocados como expressão da vitória simbólica do oprimido sobre o opressor.
(Fonte: Luis Nicolau Parés. Escravidão, pós-abolição e a política da memória. Revista Afro-Ásia, n. 49, jan -jun 2014, p. 353. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0002-05912014000100015 Acessado em 06 09 2019)
Analisando as memórias dos negros descendentes dos escravos, o filme acima resenhado explica que estes descendentes evocavam, prioritariamente, as memórias
das mazelas e sofrimentos, pois foram muito castigados e esta memória era reforçada na pequena capacidade de superação histórica destes descendentes no Brasil atual, que mantém quase intacta a segregação legal e institucional destes descendentes.
do silêncio sobre a época da escravidão e da exaltação das resistências, fugas e maneiras sobrenaturais da luta de seus antepassados. Este silêncio da história escravista opressora e a exaltação da simbologia da resistência pode ser um caminho de se pensar um futuro que valorize a positividade dos afrodescendentes e reconstrua o passado, incluindo nele suas resistências reais e simbólicas.
de depoentes que nasceram nas primeiras duas décadas do século XX. Assim, suas falas evocam mais memórias como uma expressão da vitória simbólica do oprimido escravo e liberto sobre o opressor branco e senhorial. São recordações do pós-abolição, e não do tempo do cativeiro, que os negros desejavam esquecer e não discutir mais, para não remexer neste triste passado.
de duas a três gerações antes do final da escravidão. Estas pessoas entrevistadas tinham nascido libertas pela lei do ventre livre. Desta forma, não recordavam das mazelas do cativeiro e valorizavam as lutas simbólicas e sobrenaturais que tiveram no período posterior ao fim da escravidão ocorrida em 1888. Lutavam para que a memória deste momento fosse marcada por estas lutas e não pela assinatura da lei chamada “Aurea”.