INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia o trecho a seguir, retirado da obra São Bernardo, de Graciliano Ramos.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. [...] Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. [...] Enquanto estive esburacando São Bernardo, tudo andou bem; mas quando varei quatro ou cinco propriedades, caiu-me em cima uma nuvem de maribondos. Perdi dois caboclos e levei um tiro de emboscada. Ferimento leve, tenho a cicatriz no ombro. Exasperado, mandei mais cem mil-réis a Costa Brito e procurei João Nogueira e Gondim:
– Desorientem essas cavalgaduras. Olhem que estou fazendo obra pública e não cobro imposto. É uma vergonha. O município devia auxiliar-me. Fale com o prefeito, dr. Nogueira. Veja se ele me arranja umas barricas de cimento para os mata-burros.
Não recebi o cimento, mas construí os mata-burros. Como os meus planos eram volumosos e adotei processos irregulares, as pessoas comodistas julgaram-me doido e deixaram-me em paz. Tive por esse tempo a visita do governador do Estado. [...] O governador gostou do pomar, das galinhas Orpington, do algodão e da mamona, achou conveniente o gado limosino, pediu-me fotografias e perguntou onde ficava a escola. Respondi que não ficava em parte nenhuma. No almoço, que teve champanhe, o dr. Magalhães gemeu um discurso. S. Ex.ª tornou a falar na escola. Tive vontade de dar uns apartes, mas contive-me. Escola! Que me importava que os outros soubessem ler ou fossem analfabetos? [...] De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar.
– Pois sim senhor. Quando V. Ex.ª vier aqui outra vez, encontrará essa gente aprendendo cartilha.
Todas as afirmativas estão corretamente associadas ao texto, EXCETO:
O personagem narra suas pequenas e grandes transgressões sem a menor indicação de crise de consciência, fato reforçado pela utilização de advérbios como “naturalmente”.
Por conta da expansão de suas terras, o narrador confessa ter invadido toda e qualquer área limítrofe, pouco se importando com a condição social de seus vizinhos.
O narrador promete a construção de uma escola não por acreditar na importância da educação para a comunidade, mas para talvez conseguir outros benefícios para ele mesmo.
O comentário “que teve champanhe” indica um tratamento distintivo promovido no almoço em questão, sugerindo bajulação em torno do governador.
Parte do sucesso nas transgressões à lei afirmadas pelo narrador deve-se a sua grande ousadia, o que lhe garantia uma imagem de “doido”.
Para encontrar a alternativa INCORRETA (marcada pelo enunciado “EXCETO”), siga estes passos:
No confronto, nota-se que a alternativa B exagera ao afirmar que o narrador invadiu “toda e qualquer área limítrofe”, quando ele mesmo diz ter varrido apenas quatro ou cinco propriedades. Portanto, a resposta é B.
Conceitos-chave para resolver esta questão: