INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia o excerto do conto “O caso da vara”, de Machado de Assis.
“Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos. Era apessoada, viva, patusca, amiga de rir; mas, quando convinha, brava como diabo. Quis alegrar o rapaz, e, apesar da situação, não lhe custou muito. Dentro de pouco, ambos eles riam, ela contava-lhe anedotas, e pedialhe outras, que ele referia com singular graça. Uma destas, estúrdia, obrigada a trejeitos, fez rir a uma das crias de Sinhá Rita, que esquecera o trabalho, para mirar e escutar o moço. Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa, e ameaçou-a:
– Lucrécia, olha a vara!
A pequena abaixou a cabeça, aparando o golpe, mas o golpe não veio. Era uma advertência; se à noitinha a tarefa não estivesse pronta, Lucrécia receberia o castigo do costume. Damião olhou para a pequena; era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos. Damião reparou que tossia, mas para dentro, surdamente, a fim de não interromper a conversação”.
Todas as afirmativas estão corretamente associadas ao excerto, EXCETO:
A reação condicionada de Lucrécia, ao abaixar a cabeça frente à violência sistemática de Sinhá Rita, é um exemplo do tratamento psicológico que Machado de Assis confere aos seus personagens.
O trecho apresenta um narrador que não se furta a tecer comentários e emitir opiniões sobre os personagens.
A passagem “Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos” apresenta um caso de paralelismo recorrente dentro do estilo literário de Machado de Assis: a coordenação incomum de frases. Efeito similar observa-se, por exemplo, em Memórias Póstumas de Brás Cubas: “Marcela amou-me durante quinze anos e onze contos de réis”.
As expressões “amiga de rir” e “brava como diabo” demonstram contradições no comportamento de Sinhá Rita, que são ratificadas por suas ações no decorrer do conto.
O trecho possibilita um debate sobre a escravidão, o que exemplifica a profundidade na crítica social trazida por Machado de Assis em seus contos. Essa denúncia é diluída em seus romances, com menor preocupação social e mais centrados no indivíduo.