UNESP 2012/2
Instrução: Leia o trecho da música “Nóis é jeca mais é jóia” de Juraildes da Cruz e Xangai para responder às questões de números 47.
Se farinha fosse americana
mandioca importada
banquete de bacana
era farinhada
Andam falando que nóis é caipora
qui nóis tem qui aprender ingrês
qui nóis tem qui fazê xuxéxu fóra
deixe de bestáge
nóis nem sabe o portuguêis
nóis somo é caipira pop
nóis entra na chuva e nem móia
meu ailóviú
nóis é jéca mais é jóia
Tiro bicho de pé com canivete
mais já tô na internet
nóis é jéca mais é jóia.
Considerando a letra da música e o processo de formação econômica e social dos países subdesenvolvidos, é possível afirmar que
as formas culturais produzidas nos países subdesenvolvidos tornaram-se elementos valorizados no cotidiano das elites dos países desenvolvidos ao longo de seu processo de formação.
a internalização, especialmente pela elite dos países subdesenvolvidos, de hábitos de consumo e formas culturais produzidos no exterior é uma característica marcante ao longo do processo de formação desses países.
os hábitos de consumo e as formas culturais produzidas nos países desenvolvidos não tiveram impactos significativos no processo de formação social e cultural dos países subdesenvolvidos.
as formas culturais e os hábitos de consumo produzidos nos países subdesenvolvidos foram responsáveis por moldar o comportamento cultural das elites dos próprios países subdesenvolvidos.
a intensificação dos intercâmbios comerciais entre os países permitiu que produtos alimentares, como é o caso da mandioca, se caracterizassem como a base da alimentação de sociedades localizadas em todo o mundo.
Resolução
A questão pede para relacionar a letra da música "Nóis é jeca mais é jóia" com o processo de formação econômica e social dos países subdesenvolvidos. A música aborda a identidade cultural brasileira (especialmente a rural/"caipira") em face da influência estrangeira e da globalização.
Análise da Letra:
- A primeira estrofe ("Se farinha fosse americana / mandioca importada / banquete de bacana / era farinhada") critica a valorização do que é estrangeiro em detrimento do nacional, especialmente pela elite ("bacana"). Sugere que produtos locais só seriam valorizados se tivessem origem externa.
- A segunda estrofe expressa a pressão para adotar padrões culturais e linguísticos estrangeiros ("aprender ingrês", "fazê xuxéxu fóra") e uma certa autodepreciação ("nóis nem sabe o portuguêis"), mas também uma afirmação de identidade híbrida e resiliente ("nóis somo é caipira pop", "nóis é jéca mais é jóia"). O uso de "ailóviú" (I love you) reforça essa mistura cultural.
- A terceira estrofe juxtapõe o tradicional ("Tiro bicho de pé com canivete") com o moderno/global ("mais já tô na internet"), reiterando a ideia de adaptação e coexistência ("nóis é jéca mais é jóia").
Conexão com Países Subdesenvolvidos:
O processo de formação de muitos países subdesenvolvidos, frequentemente ex-colônias, é marcado pela influência econômica e cultural das potências colonizadoras e, posteriormente, dos países desenvolvidos. Isso muitas vezes leva a:
- Dependência Cultural: Uma tendência a valorizar produtos, hábitos, línguas e formas culturais estrangeiras em detrimento das locais.
- Internalização de Valores: As elites locais, em particular, tendem a adotar e mimetizar os padrões culturais e de consumo dos países centrais como forma de distinção social e busca por status.
- Identidades Híbridas: A globalização intensifica o contato cultural, resultando em identidades que mesclam elementos locais e globais, como expresso no termo "caipira pop".
Avaliação das Alternativas:
A alternativa B afirma que a internalização de hábitos de consumo e formas culturais estrangeiras, especialmente pela elite dos países subdesenvolvidos, é uma característica marcante de seu processo de formação. Isso corresponde diretamente à crítica feita na primeira estrofe da música (a valorização do importado pela "bacana") e à pressão cultural mencionada na segunda estrofe. A música ilustra exatamente esse fenômeno: a elite valoriza o que vem de fora, e há uma pressão social para se adequar a padrões externos.
As outras alternativas não se sustentam:
- A é incorreta porque a música sugere que a elite *interna* desvaloriza a cultura local, não que a elite *externa* a valoriza.
- C é incorreta pois a música demonstra claramente o impacto significativo das formas culturais estrangeiras.
- D é incorreta; a música sugere o contrário, que a elite tende a ser moldada por influências externas, não pela cultura "jeca" local.
- E foca na disseminação global de alimentos, o que não é o ponto central da música, que usa a mandioca/farinha como exemplo de desvalorização local frente ao estrangeiro.
Portanto, a letra da música exemplifica a dinâmica de internalização de valores e hábitos estrangeiros, particularmente pelas elites, como parte do processo histórico e social dos países subdesenvolvidos.
Dicas
Erros Comuns
Revisão de Conceitos
- Países Subdesenvolvidos/Em Desenvolvimento: Nações caracterizadas historicamente por dependência econômica, industrialização tardia ou incompleta, desigualdades sociais acentuadas e, frequentemente, um passado colonial que influenciou suas estruturas sociais e culturais.
- Dependência Cultural: Conceito que descreve como a cultura de países dominantes (geralmente desenvolvidos) influencia e, por vezes, suplanta as culturas locais em países dependentes (geralmente subdesenvolvidos). Isso se manifesta na língua, nos hábitos de consumo, na mídia, na educação, etc.
- Internalização de Valores: Processo pelo qual indivíduos ou grupos sociais (como as elites) adotam normas, valores e padrões de comportamento de um grupo externo (neste caso, dos países desenvolvidos) como se fossem seus próprios. Frequentemente associado à busca por status ou à crença na superioridade da cultura externa.
- Globalização Cultural: Intensificação das trocas culturais em escala mundial, levando tanto à homogeneização (difusão de padrões globais) quanto à hibridização (mistura de elementos culturais locais e globais). A música exemplifica a hibridização ("caipira pop", uso da internet) e a tensão gerada pela homogeneização (pressão para falar inglês).
- Elite e Cultura: Em muitos países subdesenvolvidos, as elites econômicas e intelectuais historicamente tiveram um papel ambíguo, ora buscando afirmar uma identidade nacional, ora mimetizando padrões culturais e de consumo dos países centrais como forma de distinção.
