INSTRUÇÃO: Leia a crônica a seguir para responder às questões de 11 a 18.
TEXTO 01
As três experiências
1 Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci
para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma,
com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o
tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual
5 que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações
que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez
porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto para escrever o aprendizado é a
própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo
10 escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no
entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz.
Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados
voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu
15 acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no
mundo. Mas tenho uma descendência e, para eles no futuro, eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão
as asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os
criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte, mas que pode me trair e me
20 abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é o meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a
parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha
espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Fonte: LISPECTOR, Clarice. As três experiências. In: LISPECTOR, Clarice. Todas as crônicas. São Paulo: Editora Rocco, 2018.
INSTRUÇÃO: Leia o trecho abaixo da crônica de Luís Fernando Veríssimo e compare-a com a de Clarice Lispector, para responder à questão 18.
TEXTO 02
Pai não entende nada
A filha de 14 anos chega para o pai e diz:
− Pai, preciso comprar um biquíni novo.
− Mas, filha, você comprou um biquíni no ano passado.
− Ah, pai, quero um biquíni novo.
− Filha, teu biquíni é novo. E você nem cresceu tanto assim.
− Mas eu quero, pai.
− Tá bom, filha. Pegue esse dinheiro e compre um biquíni maior.
− Maior, não, pai. Menor.
Pai não entende nada mesmo!
Fonte: VERÍSSIMO, Luís Fernando. Pai não entende nada. Porto Alegre: Editora L&PM, 1997
Comparando-as, pode-se afirmar que
as duas crônicas, do ponto de vista estrutural, apresentam sequências de diálogo direto entre os personagens.
o estilo de linguagem empregado na primeira crônica é excessivamente formal, diferentemente do que ocorre na segunda.
as duas crônicas revelam um aspecto da relação entre pais e filhos, a subordinação financeira dos filhos em relação aos pais.
a primeira é veiculada, predominantemente, no modo de organização dissertativo, enquanto a segunda é predominantemente narrativa.
as duas crônicas, em termos de reflexões feitas pelos autores, apresentam a mesma quantidade de reflexões.