IFNMG 2013/2

INSTRUÇÃO: Leia este poema para responder à questão.

 

TEXTO

 

O homem: as viagens

Carlos Drummond de Andrade

 

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
[5] toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
[10] coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

 

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
[15] Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
[20] civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

 

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
[25] sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
[30] idem
idem.

 

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
[35] repetir o inquieto
repetitório.

 

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
[40] só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.

 

Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
[45] espanhol domado.

 

Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.

 

Ao acabarem todos
só resta ao homem
[50] (estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
[55] experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
[60] descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

ANDRADE. Carlos Drummond de, O homem: as viagens. In: As Impurezas do Branco. São Paulo: José Olympio, 1973

Assinale a alternativa que apresenta uma interpretação INCORRETA para esse poema :

TEXTO I

 

Pergunta inevitável?

Marcelo Gleiser

 

  Nesta semana estive no Brasil dando uma palestra em um evento corporativo. Havia umas
200 pessoas, de várias regiões do Brasil, executivos e administradores.
  Minha missão era iniciar uma reflexão macro, tirando as pessoas de sua área de conforto,
colocando questões que, na correria da vida, tendemos a deixar de lado.
[5]   Como pediram para que eu falasse sobre o homem, o tempo e o espaço, embarquei numa
discussão de como a ciência moderna vê a questão da existência humana: suas origens, seu
significado, sua incumbência enquanto espécie, seu destino. Nada mais estimulante do que dividir
minhas reflexões sobre esses temas tão fundamentais.
  Comecei falando de como somos criaturas limitadas pelo tempo, com uma história que
[10] começa e acaba; mostrei que, tal como nós, assim são também as estrelas e o próprio Universo,
cada qual com a sua história.
  A passagem do tempo e o fato de que nós, como espécie, temos consciência dela são,
talvez, a condição que mais nos define: a consciência que temos da nossa existência e da sua
finitude.
[15]   Argumentei que muito do esforço criativo humano, nossos poemas e nossas sinfonias, a
literatura, as ciências e a filosofia, enfim, a soma total da produção cultural da nossa história
coletiva podem ser vistos como uma resposta a esses anseios, como uma tentativa de compreender
a razão de nossas vidas.
  Amor, reprodução, poder e relacionamentos, são manifestações de quem somos e de como
[20] escolhemos viver nossas vidas.
  Passei para a questão das origens: do Cosmo, das estrelas, da vida, mostrando que todas as
culturas de que temos registro oferecem uma narrativa da criação, um esforço de explicar de onde
veio tudo.
  Olhar para o céu e ver milhares de estrelas nos remete, inevitavelmente, à questão da
[25] existência de outros mundos, da possibilidade de que não estamos sós no Universo. Mais ainda
quando aprendemos que apenas em nossa galáxia, a Via Láctea, existem em torno de 200 bilhões
de estrelas, o Sol sendo apenas uma delas.
  Mostrei imagens belíssimas tiradas por sondas espaciais, como o telescópio espacial
Hubble, explicando como essas máquinas maravilhosas são um depoimento da criatividade
[30] humana: esses pequenos robôs atravessam milhões de quilômetros pelo espaço sideral, visitando
outros mundos controlados aqui da Terra por pessoas como nós.
  Sugeri que devemos celebrar esses feitos tecnológicos como celebramos outras grandes
obras da humanidade, das pirâmides às catedrais medievais, da arquitetura de Brasília à Mona
Lisa e às sinfonias de Beethoven.
[35]   Mostrei que, diferentemente do que a maioria pensa, e como explico no livro "Criação
Imperfeita", quanto mais aprendemos sobre o Cosmo, mais relevantes ficamos: aglomerados
moleculares de poeira estelar capazes de refletir sobre quem somos, de construir máquinas que
nos permitem ver além da nossa percepção tão limitada do real.
Tentei, com palavras e imagens, celebrar a condição humana e a beleza austera do Cosmo.
[40]   E, ao fim de tudo isso, tão inexorável quanto a passagem do tempo, veio a pergunta
inevitável: "O senhor acredita em Deus?"

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelogleise r. (publicado em 19/05/2013) Acesso em 24 mai. 2013.

a

A enumeração dos vários espaços a que o homem conseguiu chegar, entre os quais: a Lua, Marte, Vênus, Júpiter e o Sol, simboliza metaforicamente as descobertas científicas e os avanços tecnológicos empreendidos pela humanidade ao longo da sua história. 

b

No final do poema, o eu lírico chama a atenção para o fato de a humanidade, apesar de todas as descobertas e avanços tecnológicos realizados, não ter conseguido dominar, ainda, a “dificílima arte de conviver”. 

c

O eu lírico, por meio da descrição das viagens espaciais realizadas pelo homem, enaltece, assim como fizera o narrador do texto l , a capacidade que o homem possui para descobrir e criar, tanto nos campos científicos e tecnológicos quanto no artístico. 

d

Esse poema pode ser considerado uma crítica às questões priorizadas pelo homem, que se atém ao desenvolvimento nos aspectos externos, como pesquisas, invenções, descobertas científicas e aquisições materiais, enquanto deixa de evoluir nos aspectos internos, como na convivência consigo e com os outros seres da sua própria espécie.

Ver resposta
Ver resposta
Resposta
C
Tempo médio
1 min
Resolução
Assine a aio para ter acesso a esta e muitas outras resoluções
Mais de 250.000 questões com resoluções e dados exclusivos disponíveis para alunos aio.
Tudo com nota TRI em tempo real
Saiba mais
Esta resolução não é pública. Assine a aio para ter acesso a essa resolução e muito mais: Tenha acesso a simulados reduzidos, mais de 200.000 questões, orientação personalizada, video aulas, correção de redações e uma equipe sempre disposta a te ajudar. Tudo isso com acompanhamento TRI em tempo real.
Dicas
expand_more
expand_less
Dicas sobre como resolver essa questão
Erros Comuns
expand_more
expand_less
Alguns erros comuns que estudantes podem cometer ao resolver esta questão
Conceitos chave
Conceitos chave sobre essa questão, que pode te ajudar a resolver questões similares
Estratégia de resolução
Uma estratégia sobre a forma apropriada de se chegar a resposta correta
Depoimentos
Por que os estudantes escolhem a aio
Tom
Formando em Medicina
A AIO foi essencial na minha preparação porque me auxiliou a pular etapas e estudar aquilo que eu realmente precisava no momento. Eu gostava muito de ter uma ideia de qual era a minha nota TRI, pois com isso eu ficava por dentro se estava evoluindo ou não
Sarah
Formanda em Medicina
Neste ano da minha aprovação, a AIO foi a forma perfeita de eu entender meus pontos fortes e fracos, melhorar minha estratégia de prova e, alcançar uma nota excepcional que me permitiu realizar meu objetivo na universidade dos meus sonhos. Só tenho a agradecer à AIO ... pois com certeza não conseguiria sozinha.
A AIO utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Ver política de privacidade
Aceitar