INSTRUÇÃO: Leia este poema para responder à questão.
TEXTO
O homem: as viagens
Carlos Drummond de Andrade
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
[5] toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
[10] coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
[15] Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
[20] civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
[25] sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
[30] idem
idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
[35] repetir o inquieto
repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
[40] só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
[45] espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
[50] (estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
[55] experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
[60] descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.
ANDRADE. Carlos Drummond de, O homem: as viagens. In: As Impurezas do Branco. São Paulo: José Olympio, 1973
Em relação à linguagem e aos recursos estilísticos utilizados nesse poema, pode-se afirmar que, EXCETO:
O termo “o homem”, no sentido em que é utilizado ao longo do poema, representa uma metonímia que se refere a toda a humanidade.
Nos versos (31 e 40) “O homem chega ao Sol ou dá uma volta/ só para tever?”, a palavra “tever” é um neologismo criado a partir da junção do verbo “ter” e do vocábulo abreviado “TV”, a fim de demonstrar a importância que o homem atribui à aparência.
Por ser um texto literário, predomina, nesse poema, o uso da linguagem figurada e conotativa.
Esse poema possui rimas, versos e estrofes regulares, apresentando, portanto, uma estrutura poética clássica e tradicional.