Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores.
Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores;
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.
(Bocage)
Que: porque
Ponderai: considerai
Fortuna: destino
Sentimento: pesar, tristeza, desgosto, mágoa
Festival: entusiástico
Bocage foi um dos maiores sonetistas da Literatura Portuguesa e o poema acima um dos mais conhecidos de sua obra. Assinale a afirmação NÃO pertinente:
Dirigindo-se aos leitores, o poeta avalia com desprezo e desfaçatez a própria obra poética (“incultas produções”).
O poeta declara que seus textos não merecem louvores porque seus sentimentos não foram verdadeiros.
Numa postura humilde, o poeta pede aos impiedosos leitores compaixão para seus escritos.
Nos versos 5 e 6, o poeta pede para levar em conta os acasos do destino presentes em seus “suspiros, lágrimas e amores”.
O poeta pede também para perceber o disparate, proporcionado pelo destino, entre os benefícios - poucos e curtos - e os males - abundantes.