I
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercado de troncos – cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d'outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
DIAS, Gonçalves. I-Juca Pirama. In: I-Juca Pirama seguido de Os Timbiras. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1997. p. 11.
verão
águas
que se movem
como pêndulos
cegos
ninguém no píer
na quase-ilha
península
la presqu'île
Sol a pino
mar
que molda rochedos
e despeja
sargaços na praia
e
deixa em todos os portos
um pouco
dos meus degredos
PEREIRA, Luís Araujo. Minigrafias. Goiânia: Cânone, 2009. p. 39.
Ao contrário do fragmento de I-Juca Pirama, constatam-se no poema verão:
ausência de recursos gramaticais de pontuação gráfica, emprego de linguagem coloquial e versos minimalistas.
imagens de apresentação do ambiente, relação de causa e consequência ao longo da descrição e versificação concisa.
ausência de rima entre os versos, descrição do espaço sem povoamento e apresentação coesa do ambiente.
versos breves, economia de adjetivação na descrição e interioridade do eu poético afetada pela apresentação do ambiente.
versos como partículas de frases, variação de terceira à primeira pessoa do singular e distanciamento do eu poético.