Hoje em dia quando surge algum novel escritor, o aparecimento de seu primeiro trabalho é uma festa, que celebra-se na imprensa com luminárias e fogos de vistas. Rufam todos os tambores do jornalismo, e a literatura forma parada e apresenta armas ao gênio triunfante que sobe ao Panteão. Compare-se essa estrada, tapeçada de flores, com a rota aspérrima que eu tive de abrir, através da indiferença e do desdém, desbravando as urzes da intriga e da maledicência.
Outros romances é de crer que sucedessem a O Guarani no folhetim do Diário; se meu gosto não se voltasse então para o teatro. De outra vez falarei da feição dramática de minha vida literária; e contarei como e por que veio-me essa fantasia. Aqui não se trata senão do romancista.
Em 1862 escrevi Lucíola, que editei por minha conta e com o maior sigilo. Talvez não me animasse a esse cometimento, se a venda da segunda e terceira edição ao Sr. Garnier, não me alentasse a confiança, provendo-me de recursos para os gastos da impressão.
O aparecimento de meu novo livro fez-se com a etiqueta, ainda hoje em voga, dos anúncios e remessa de exemplares à redação dos jornais. Entretanto toda a imprensa diária resumiu-se nesta notícia de um laconismo esmagador, publicada pelo Correio Mercantil: “Saiu à luz um livro intitulado Lucíola”. Uma folha de caricaturas trouxe algumas linhas pondo ao romance tachas de francesia.
Há de ter ouvido algures, que eu sou um mimoso do público, cortejado pela imprensa, cercado de uma voga de favor, vivendo da falsa e ridícula idolatria a um nome oficial. Aí tem as provas cabais; e por elas avalie dessa nova conspiração do despeito que veio substituir a antiga conspiração do silêncio e da indiferença.
(ALENCAR, José de. Como e porque sou romancista. Campinas, SP: Pontes, 1990. p. 65-67.)
Em relação à obra Como e porque sou romancista, de José de Alencar, é correto afirmar: