ENEM 2019

HELOÍSA: Faz versos?

PINOTE: Sendo preciso… Quadrinhas… Acrósticos… Sonetos… Reclames.

HELOÍSA: Futuristas?

PINOTE: Não senhora! Eu já fui futurista. Cheguei a acreditar na independência… Mas foi uma tragédia! Começaram a me tratar de maluco. A me olhar de esguelha. A não me receber mais. As crianças choravam em casa. Tenho três filhos. No jornal também não pagavam, devido à crise. Precisei viver de bicos. Ah! Reneguei tudo. Arranjei aquele instrumento (Mostra a faca) e fiquei passadista.

ANDRADE, O. O rei da vela. São Paulo: Globo, 2003.

O fragmento da peça teatral de Oswald de Andrade ironiza a reação da sociedade brasileira dos anos 1930 diante de determinada vanguarda europeia. Nessa visão, atribui-se ao público leitor uma postura

a
preconceituosa, ao evitar formas poéticas simplificadas.
b
conservadora, ao optar por modelos consagrados.
c
preciosista, ao preferir modelos literários eruditos.
d
nacionalista, ao negar modelos estrangeiros.
e
eclética, ao aceitar diversos estilos poéticos.
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Resposta
B
Tempo médio
1 min

Resolução

A questão pede para identificar a postura atribuída ao público leitor (e à sociedade em geral) pela peça de Oswald de Andrade, com base na reação ao movimento futurista descrita pelo personagem Pinote.

1. Análise do Diálogo: Heloísa pergunta se Pinote faz versos, e ele lista vários tipos, incluindo "reclames". Quando questionado se são "futuristas", Pinote revela que já foi adepto do Futurismo, mas abandonou o movimento.

2. Motivo da Mudança: Pinote explica que sua fase futurista foi uma "tragédia". A sociedade reagiu negativamente: chamavam-no de "maluco", olhavam-no "de esguelha" (com desconfiança, de lado), e ele deixou de ser bem recebido. Essa rejeição social teve consequências práticas graves: sofrimento familiar ("As crianças choravam em casa"), dificuldades financeiras ("No jornal também não pagavam, devido à crise. Precisei viver de bicos").

3. A Consequência - Tornar-se "Passadista": Diante dessa pressão social e econômica, Pinote renega o Futurismo ("Ah! Reneguei tudo") e adota uma postura "passadista", ou seja, volta-se para o passado, para os modelos tradicionais e já aceitos. O instrumento que ele mostra (a faca) pode simbolizar uma postura mais pragmática e até agressiva para sobreviver, abandonando os ideais artísticos inovadores.

4. A Ironia e a Crítica Social: Oswald de Andrade, um dos líderes do Modernismo brasileiro (que dialogava com as vanguardas europeias como o Futurismo), ironiza a resistência da sociedade brasileira a novas formas de expressão artística. A peça mostra que a sociedade não apenas rejeitava o novo por questões estéticas, mas também marginalizava social e economicamente aqueles que ousavam inovar.

5. Conclusão: A rejeição ao Futurismo (vanguarda, inovação) e a consequente adoção de uma postura "passadista" (ligada ao passado, ao tradicional) por parte de Pinote, forçada pela reação do público, demonstra que essa sociedade tinha uma postura conservadora. Ela preferia os modelos já estabelecidos e consagrados, resistindo às novas propostas artísticas que rompiam com a tradição.

Portanto, a visão irônica da peça atribui ao público leitor (e à sociedade) uma postura conservadora, que opta por modelos consagrados em detrimento das inovações vanguardistas.

Dicas

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Preste atenção no motivo que levou Pinote a deixar de ser futurista.
O que significa a palavra "passadista" no contexto da oposição ao Futurismo?
Como a sociedade reagiu às tentativas futuristas de Pinote, segundo o próprio personagem?

Erros Comuns

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Confundir a crítica à postura da sociedade com a postura do próprio Oswald de Andrade, que era modernista.
Interpretar "passadista" apenas como alguém que escreve sobre o passado, sem entender a conotação de conservadorismo e oposição ao moderno.
Achar que a rejeição se deu por nacionalismo (opção D), sem perceber que a crítica é mais voltada à resistência à inovação em si.
Não compreender a ironia na fala de Pinote e na situação descrita.
Associar a rejeição a uma suposta falta de qualidade ou simplicidade do Futurismo (opção A), quando o problema era o estranhamento e a quebra de padrões.
Revisão

Modernismo Brasileiro: Movimento artístico e cultural que ocorreu no Brasil principalmente na primeira metade do século XX. Buscava romper com o tradicionalismo e criar uma arte genuinamente brasileira, mas conectada com as tendências internacionais. Oswald de Andrade foi uma figura central da primeira fase do Modernismo (Semana de Arte Moderna de 1922).

Vanguardas Europeias: Movimentos artísticos do início do século XX (Futurismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, etc.) que propunham uma ruptura radical com a arte tradicional, buscando novas formas de expressão, temas e técnicas.

Futurismo: Vanguarda surgida na Itália, que exaltava a velocidade, a máquina, a tecnologia, a ruptura com o passado e, por vezes, a violência. Influenciou o Modernismo brasileiro, embora adaptado à realidade local.

"O Rei da Vela" (1933/1937): Peça teatral de Oswald de Andrade, considerada uma obra-prima do Modernismo. Critica de forma ácida a burguesia paulista, a dependência econômica do Brasil e as relações sociais da época, utilizando linguagem irreverente e fragmentada.

Passadismo vs. Futurismo: O texto opõe o "futurista" (aquele que adere às ideias de vanguarda, voltado para o futuro e a inovação) ao "passadista" (aquele apegado ao passado, às tradições, conservador).

19%
Taxa de acerto
2.8
Média de pontos TRI
Habilidade

Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Porcentagem de alternativa escolhida por nota TRI
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