Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão.
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer.
(Geraldo Vandré. Pra não dizer que não falei das flores, 1968.)
O fragmento é parte de uma música apresentada no III Festival Internacional da Canção, realizado em setembro de 1968. Entre as reações que ela causou, pode-se destacar
o entusiasmo dos jovens engajados politicamente, que a saudaram como um hino contra a ditadura militar, e a proibição de sua execução, por parte do governo, que a considerava subversiva.
o desprezo por parte de compositores mais experientes, por sua letra simples e com rimas pobres, e a mobilização do exército brasileiro, exigindo que o compositor se desculpasse por suas críticas.
o estímulo aos intelectuais e artistas contrários à ditadura, que a partir do festival se mobilizaram para exigir a abertura política, e o enfraquecimento do grupo militar que mantinha o poder no Brasil.
o descontentamento da classe média, preocupada com a crítica feita aos militares que comandavam o país, e a admiração dos jurados americanos, que convidaram Vandré para gravar nos Estados Unidos.
o repúdio dos grupos de esquerda, que acreditavam na necessidade de ações concretas para reagir à ditadura, e o apoio ao júri do festival que não a escolheu como a vencedora da disputa.