IMEPAC Medicina 2012/2

FREUD NO ESCÂNER

No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,

Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância

magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de

pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a

[5]  própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não

eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de

coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade

dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as

pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os

[10]  dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações

técnicas da época, Freud não pôde dar.

Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan

Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão

almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas

[15]  teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As

pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o

inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.

Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas

tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e

[20]  analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as

terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas

pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e

superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos

especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?

[25]  Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor

de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de

Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.

Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.

Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?

[30]  “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran

Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais

marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos

ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem

saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A

[35]  maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é

completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista

muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em

sua alma.”

Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade

[40]  de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da

psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas

é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,

do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou

nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro

[45]  de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para

20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades

organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.

Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.

“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que

[50]  o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é

importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo

demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito

do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o

psicoterapeuta.

[55]  Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?

“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,

alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do

cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”

[60]  Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,

  deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não

se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as

descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,

grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e

[65]  alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser

a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.

QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)

Assinale a alternativa em que, na nova redação, na voz passiva, NÃO se preservou o tempo da forma verbal.

a

“Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?” (linha 55)
Como seria a terapia se tivesse sido desenvolvida por Freud depois da neurociência?

b

“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas [...]”. (linha 56)
As pessoas seriam também estimuladas por ele a pensar em soluções para sair dos problemas.

c

“Mas, como a ciência rejeita os dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas.” (linha 9-10)
Mas, como os dogmas foram rejeitados pela ciência, não faltou quem exigisse provas concretas.

d

“Se a psicanálise se isolar e ignorar as descobertas da ciência [...]”. (linha 62-63)
Se a psicanálise se isolar e as descobertas da ciência forem ignoradas.

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C
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