"Falarei na presença do meu Deus do ano vigésimo nono da minha idade. Já tinha vindo para Cartago o bispo dos maniqueístas, chamado Fausto, ´grande laço do demônio´, pois seduzia a muitos por meio da sua melífula eloquência. Não obstante ser esta para mim aplaudida. Sabia, contudo, discerni-la das verdades que desejava aprender. Não reparava no vaso do discurso em que as ministrava, mas sim no alimento de ciência que Fausto, tão conceituado entre eles, me apresentava como manjar. Tinha chegado até mim a fama de que era eruditíssimo nas ciências mais prestigiosas e, sobretudo, conhecedor das artes liberais". (AGOSTINHO. As confissões. Tradução de Angelo Ricci. São Paulo: Abril, 1973. p. 92).
O fragmento acima da obra de Santo Agostinho introduz sua crítica ao maniqueísmo, doutrina que o filósofo de Hipona havia defendido quando jovem, mas que abandonou posteriormente. Um dos aspectos da doutrina maniqueísta que foi objeto da crítica agostiniana foi justamente:
o dualismo irredutível do bem e do mal, que separava luz e trevas, Deus e o Diabo.
A concepção fortemente espiritual da alma que apresentava a faculdade de entrar em si mesma, antecipando a subjetividade moderna.
A noção de uma negação ontológica do mal que o posicionava como sendo completamente vazio e desprovido de Ser.
O lugar privilegiado dado ao conceito de pecado que se apresentava como um mau uso do livre arbítrio humano.
Uma conexão entre fé e razão de maneira a unir religião e filosofia.