Falar e dizer
Não é possível que portentos não tenham ocorrido
Ou visões ominosas e graves profecias
Quando nasci.
Então nasce o chamado
Herdeiro das superfícies e das profundezas então
Desponta o sol
E não estremunha aterrado o mundo?
Assim à idade da razão
Vazei os olhos cegos dos arúspices e,
Fazendo rasos seus templos devolutos,
Desde então eu designo no universo vão
As coisas e as palavras plenas.
Só
Com elas
Recôndito e radiante ao sopro dos tempos
Falo e digo
Dito e decoro
O caos arreganhado a receber-me incontinente.
(Antônio Cícero)
Nos versos, a postura assumida pelo eu lírico em relação ao mundo revela
confiança no poder da palavra, capaz de organizar o caos do universo em que o eu lírico se insere.
aceitação de seu anonimato, visto que seus dons não estão ao alcance de serem compreendidos no universo.
sentimento de inferioridade diante da incerteza de poder nomear os acontecimentos do universo.
insegurança em relação à tarefa a que se sente destinado: organizar o caos do universo.
revolta por perceber sua própria incapacidade de alterar o mundo à sua volta.