Faça a leitura do poema, Adormecida, de Castro Alves:
[...]
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia,
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! — tu és a virgem das campinas!”
“Virgem! — tu és a flor de minha vida!...”
(ALVES, Castro. Espumas flutuantes. 3 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998, pp. 138-139. [Clássicos para o Vestibular].)
Sobre esse poema de Castro Alves é correto afirmar que ele se difere de outros poemas românticos porque a figura da amada se apresenta como
uma sombra envolta em névoa.
um ser distante e inatingível.
um objeto de desejo tangível e realizável.
um demônio sombrio e sedutor.