Eu vi uma rosa
Manuel Bandeira
Eu vi uma rosa
— Uma rosa branca —
Sozinha no galho.
No galho? Sozinha
No jardim, na rua.
Sozinha no mundo.
Em torno, no entanto,
Ao sol de meio-dia,
Toda a natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.
Tudo isso era excesso.
A graça essencial,
Mistério inefável
— Sobrenatural —
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa
Sozinha no galho.
Sozinha no tempo.
Tão pura e modesta,
Tão perto do chão,
Tão longe na glória
Da mística altura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
As palavras santas
De outra Anunciação.
(“Lira dos cinquent’anos”. In: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro, José Olympio, 1966, p. 178-9)
Pequeno poema para Manuel Bandeira
Cassiano Ricardo
“1
Viste um dia uma rosa
sozinha, no galho.
No galho?
Sozinha,
no jardim, na rua.
Sozinha no mundo.
Em torno, a natureza,
as cores, as formas,
tudo isso era excesso.”
(RICARDO, Cassiano. Pequeno poema para Manuel Bandeira”. In: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro, José Olympio, 1966, p. XXXII, III)
A partir da relação entre o poema de Manuel Bandeira e o fragmento do poema de Cassiano Ricardo, acima, é incorreto afirmar que
o eu-lírico de “Pequeno poema para Manuel Bandeira” provavelmente se refere ao eu-lírico de “Eu vi uma rosa”.
ambos poetas certamente leram o poema um do outro.
ambos textos tomam a rosa como uma metáfora.
o poema de Cassiano Ricardo faz referência a Manuel Bandeira.
existe uma relação intertextual entre os poemas.