Eu deixava-me estar ao canto da mesa, a escrever desvairadamente num pedaço de papel, com uma ponta de lápis; traçava uma palavra, uma frase, um verso, um nariz, um triângulo, e repetia-os muitas vezes, sem ordem, ao acaso, assim:
Maquinalmente tudo isto; e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução; por exemplo, foi o virumque que me fez chegar ao nome do próprio poeta, por causa da primeira sílaba; ia a escrever virumque, - e sai-me Virgílio, então continuei:
O trecho acima é do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis. Dele é correto afirmar que
revela uma ruptura incomum dos procedimentos narrativos e da sequência linear que caracterizam esse romance machadiano.
provoca estranhamento pelo insólito uso do gráfico visual que desloca a narrativa do puramente verbal, aproximando-a da linguagem plástica, o que fere o estatuto do literário.
apresenta-se como uma citação da literatura latina, inserida por acaso no corpo do romance, sem outra finalidade que não a de ser apenas mais uma digressão a integrar a estrutura da obra.
indicia, no exercício lúdico da desmontagem verbal, a senha que levará o narrador à descoberta da mulher, com quem viverá um prolongado relacionamento amoroso de caráter adulterino