Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido.
Fabiano procurou em vão perceber um toque de chocalho. Avizinhou-se da casa, bateu, tentou forçar a porta. Encontrando resistência, penetrou num cercadinho cheio de plantas mortas, rodeou a tapera, alcançou o terreiro do fundo, viu um barreiro vazio, um bosque de catingueiras murchas, um pé de turco e o prolongamento da cerca do curral. Trepou-se no mourão do canto, examinou a caatinga, onde avultavam as ossadas e o negrume dos urubus
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 65.
Considerando a temática e o significado dos termos utilizados no texto, é correto afirmar que:
o autor explorou elementos constitutivos de uma paisagem surreal e abundante de comparações abstratas.
aparecem indivíduos expatriados numa paisagem hostil que desejam a fuga para espaços deslocados de sua realidade primitiva.
observa-se uma tradição literária baseada em sentimentalismos, responsáveis por evidenciar no texto uma forte tonalidade lírica.
observa-se uma tendência literária fundamentada na expressão da realidade humana, com os quesitos de sofrimento e hostilidade da natureza.
sintetizam-se características de um mundo imaginário, no qual as imagens aparecem desfocadas da realidade imediata e não testemunham a paisagem.
Neste excerto de Vidas secas, de Graciliano Ramos, observa-se a dura realidade do sertão nordestino, marcada pela escassez de água, pela fuga dos moradores e pela presença de ossadas e urubus. Essa atmosfera de miséria e adversidade natural é típica dos romances da 2ª fase do Modernismo brasileiro (ou ‘romance de 30’), que privilegiam a análise social e a crítica às condições de vida dos habitantes do sertão. A alternativa correta (D) enfatiza justamente essa expressão da realidade humana associada à natureza hostil e ao sofrimento dos personagens, aspectos centrais na obra de Graciliano Ramos.
Romance de 30 (2ª Fase do Modernismo brasileiro): caracterizado pelo enfoque em temas sociais, como a seca e a miséria no sertão nordestino. Os autores dessa geração (a exemplo de Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz) retratavam a realidade com maior objetividade, apresentando críticas às condições de vida no Brasil. Em Vidas secas, Graciliano Ramos constrói uma narrativa concisa e direta, evidenciando a luta e o sofrimento de Fabiano e sua família, mostrando a hostilidade de uma paisagem árida e inóspita.
Foco na linguagem enxuta: Graciliano Ramos notabiliza-se pelo uso da linguagem concisa, sem excessos sentimentais. Em seu texto, observa-se a descrição crua de um ambiente árido, sinalizando um realismo que busca expor a verdade das agruras vivenciadas pelas personagens.