Atenção: Para responder às questões de números 1 a 7, baseie-se no texto abaixo.
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[Rubem Braga, cronista maior]
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Desde que surgiu para a literatura na década de 30, Rubem Braga nos encanta com suas histórias. Ao longo dos anos, em meio às atribulações do dia a dia, o leitor brasileiro se habituou a esperar, em certos jornais e revistas, os dois dedos de prosa com que o “velho Braga” o prendia inapelavelmente, O assunto podia ser escasso ou faltar, mas o encantamento se fada assim mesmo. De repente, naquela linguagem volátil, O leitor se encontrava ferra a ferra com a poesia do cotidiano.
Sem dúvida, tratava-se de um cronista, de um narrador e comentarista dos falos corriqueiros de lodo dia, mas algo ali transfigurava a crônica, dando-lhe uma consistência literária que ela jamais tivera. Era um escritor diferente, pois havia escolhido um espaço diverso de criação: o espaço dominado pois informação jornalistica E, novo paradoxo, parecia discrepar naquele meio moderno da informação, como se o que trazia para expressar fosse inteiramente incompatível com o jornal.
É que aquele cronista trazia algo escasso nos tempos aluais: a sua própria experiência. Uma experiência particular, densa e complexa, inusitada para o tempo e o lugar, mas capaz de se transmitir a muitos que nela se reconheciam, permeáveis ao que havia ali de comum e solidário. Uma experiência que se transmitia por histórias, pela arte do narrador, que parecia vir de outros tempos e retomar o fio da tradição oral, tão importante no Brasil.
Desde o princípio, deve ter sido difícil definir com precisão o que eram aquelas crônicas. Pareciam esconder muita complexidade sob a capa límpida da naturalidade. Disfarçavam a arte da escrita numa prosa divagadora de quem conversa sem rumo certo, distraído com o balanço da rede, passando o tempo, como que para se livrar do ácio ou do tédio. E, no entanto, era uma prosa cheia de achados de linguagem, um vocabulário escolhido a dedo para o lugar certo. Eram frases em geral curtas, com preferência pelas orações coordenadas, sem temer, porém curvas e enlaces dos períodos mais longos e complicados. Uma sintaxe, enfim, leve e flexível, próxima da linguagem coloquial.
Num mundo como o nosso, já bastante automatizado, onde tudo pode virar mercadoria e em si nada valer, o velho Braga, em meio às coisas mais efêmeras, não apenas nos dá a impressão súbita do momento fugitivo de uma alta beleza presente no cotidiano, mas também a dignidade e a poesia do perecível, quando tocada por um dedo humano.
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(Adaptado de: ARRIGUCCI JR, Davi, “Braga de novo por aqui" in: BRAGA, Rubem, Os melhores contos. São Paulo: Global, 1877)
Está plenamente adequado o emprego do elemento sublinhado na frase:
A tradição dos relatos orais, na qual o velho Braga não desconhecia, representava-se em suas crônicas.
O processo de coordenação a que o cronista recorra costumeiramente era uma das marcas de seu estilo.
As crônicas de Rubem Braga, das quais todos esperavam com ansiedade, eram simples e densas.
A impressão por cuja somos tomados, quando lemos o velho Braga, é a de que se trata de um mágico.
A experiência pessoal não costuma ser uma fonte aonde os escritores costumam se valer o tempo lado.