Esta folha branca
me proscreve o sonho,
me incita ao verso
nítido e preciso.
Eu me refugio
nesta praia pura
onde nada existe
em que a noite pouse.
Como não há noite
cessa toda fonte;
como não há fonte
cessa toda fuga;
como não há fuga
nada lembra o fluir
de meu tempo, ao vento
que nele sopra o tempo.
NETO, João Cabral de Melo. A psicologia da composição II. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 93-94.
João Cabral de Melo Neto, poeta da terceira fase do Modernismo, distancia-se dessa geração ao criar uma poesia singular.
Isso se comprova, no texto, por meio
do gosto pelo confessionalismo.
da busca do sombrio, do obscuro.
do enfoque da realidade cotidiana.
da contestação à objetivação do poema.
do desinteresse pelo questionamento do “estar-no-mundo”.