Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.
Refletindo o sobre o fragmento, é correto afirmar que:
a libido e a virilidade sexual não têm importância na obra, pois as personagens não exercitam esse aspecto.
o comportamento das personagens é muito subjetivo e não é ditado pelo meio em que elas vivem.
repetidamente as personagens sofrem um processo de zoomorfização, ou seja, a animalização do comportamento humano, que vai ao encontro dos preceitos do romance naturalista.
diferentemente de outras obras, em O cortiço Azevedo não dá grande importância ao agrupamento humano, valorizando muito mais a subjetividade dentro de um determinado grupo.
as relações amorosas em O cortiço seguem a regra do sentimento idealizado e inatingível, descartando o desejo carnal entre as personagens.