Era uma tarde triste, mas límpida e suave...
Eu — pálido poeta — seguia triste e grave
A estrada, que conduz ao campo solitário,
Como um filho, que volta ao paternal sacrário,
E ao longe abandonando o múrmur da cidade
— Som vago, que gagueja em meio à imensidade, —
No drama do crepúsculo eu escutava atento
A surdina da tarde ao sol, que morre lento.
A poeira da estrada meu passo levantava,
Porém minh’alma ardente no céu azul marchava
E os astros sacudia no voo violento
— Poeira, que dormia no chão do firmamento.
A pávida andorinha, que o vendaval fustiga,
Procura os coruchéus da catedral antiga.
Eu — andorinha entregue aos vendavais do inverno,
Ia seguindo triste p’ra o velho lar paterno.
(Castro Alves, “Boa vista”. In: Espumas Flutuantes)
Vocabulário
múrmur: ruído, burburinho
coruchéu: torre pontiaguda
Embora tenha se notabilizado pela poesia de caráter social, Castro Alves também se destacou por sua obra lírico-amorosa, na qual se encontram resquícios da chamada segunda geração romântica. Recorrente no contexto cultural do Romantismo, a temática que se encontra nesse soneto é
o bucolismo, através da busca da aproximação do poeta à vida simples do campo.
a crítica à postura escapista de buscar na natureza a solução para o sofrimento.
a busca da liberdade, através do rompimento dos laços afetivos com a família.
o envolvimento subjetivo dos elementos da natureza, ecoando o estado de espírito do poeta.
a evasão da realidade, buscando na morte o remédio para os dramas existenciais do poeta.