“Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão de Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.”
(ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. 22.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 29- 30)
Na passagem acima, Mário de Andrade retoma uma tradição de contar histórias, onde Macunaíma, o herói da nossa gente, representa uma espécie de símbolo de afirmação da nossa mestiçagem que até então, antes do modernismo, era vista como sinal de inferioridade. Ao sair da água encantada, porém, ele consegue ficar branco, enquanto seus dois irmãos, mais adiante, continuam com os traços indígenas e negroides. Essa metáfora compõe, junto com a forma de contar histórias:
o pobre cenário de nossa relação com o passado.
o irremediável apego a uma tradição narrativa, sem mais sentido para a época.
o mergulho nas nossas raízes e o desafio de compreendê-las na sua complexidade.
uma discussão que confirma, apenas, a falta de sentido de nossa malandragem, como marca da nossa identidade.
a abertura para todos os ufanismos e exageros nacionalistas que marcariam a nossa trajetória de desembaraço de contradições.
Para responder a esta questão, é importante compreender que a obra 'Macunaíma', de Mário de Andrade, é um dos símbolos do Modernismo brasileiro e busca resgatar e valorizar a cultura nacional, desconstruindo a ideia de que a mestiçagem era um sinal de inferioridade. A transformação de Macunaíma, ao sair da água encantada e ficar branco, é uma metáfora que se propõe a refletir sobre a identidade nacional, não como um elemento estático, mas sim como algo complexo e multifacetado. Ao analisar as opções, deve-se identificar qual delas melhor reflete essa ideia.
Considere o contexto do Modernismo e a busca por uma identidade cultural autêntica no Brasil.
Reflita sobre o simbolismo da transformação de Macunaíma e o que ela representa para a questão da mestiçagem.
Pense na obra como uma metáfora da complexidade da identidade nacional e não como uma crítica superficial.
Interpretar a obra como uma simples representação do passado, sem compreender seu caráter simbólico e crítico.
Ignorar o contexto modernista e a valorização das tradições narrativas nacionais.
Reduzir a discussão à malandragem, ignorando os demais elementos que compõem a identidade nacional.
Confundir a análise crítica e a valorização cultural com um discurso ufanista.
O Modernismo no Brasil foi um movimento que buscava romper com as tradições literárias passadas, valorizando a expressão da identidade cultural brasileira de forma autêntica. Abrangia críticas à visão eurocêntrica e procurava reconhecer a diversidade e a riqueza da mestiçagem do povo brasileiro. 'Macunaíma' é uma obra que exemplifica essa busca pela essência da cultura nacional, misturando elementos da oralidade, mitologia indígena, e questões raciais e sociais.