ENEM 2016 terceira aplicação
Enquanto o pensamento de Santo Agostinho representa o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de Aristóteles – até então vista sob suspeita pela Igreja —, mostrando ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com a doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse pelas ciências naturais, um do principais motivos do interesse por Aristóteles nesse período.
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra de Aristóteles pelo fato de a abra aristotélica
valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas religiosos.
declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a moral religiosa.
críticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras intituições religiosas.
evocar pensamentos de religiões orientais, minando a expansão do cristianismo.
contribuir para o desenvolvimento de sentimentos antirreligiosos, seguindo sua teoria política.
Resolução
Passo a passo para a solução:
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Leitura e Compreensão do Texto Base: Leia atentamente o texto fornecido. Ele estabelece um contraste entre Santo Agostinho (influenciado por Platão) e São Tomás de Aquino (influenciado por Aristóteles) no contexto da filosofia cristã. O ponto central é que Tomás de Aquino "reabilita" a filosofia de Aristóteles, que antes era vista "sob suspeita pela Igreja".
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Identificação da Informação Chave: O texto afirma que a reabilitação de Aristóteles por Tomás de Aquino "abriu caminho para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse pelas ciências naturais". Isso sugere que o interesse pelas "ciências naturais" estava ligado a Aristóteles e que essa ligação pode ter sido a fonte da "suspeita" inicial da Igreja.
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Análise do Enunciado da Questão: O enunciado pergunta especificamente por que a Igreja Católica inicialmente "impediu a divulgação da obra de Aristóteles". A palavra "impediu" talvez seja forte, mas o texto fala em "vista sob suspeita", o que implica uma resistência ou restrição.
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Avaliação das Alternativas: Analise cada alternativa à luz do texto e do conhecimento histórico/filosófico sobre o período:
- A: Afirma que a obra aristotélica valorizava a investigação científica, contrariando dogmas. O texto menciona o interesse pelas "ciências naturais" associado a Aristóteles e a "suspeita" inicial da Igreja. A filosofia aristotélica, com seu foco na observação empírica e na lógica, podia ser vista como um desafio a certas interpretações literais ou dogmáticas das escrituras ou da doutrina estabelecida. Essa opção conecta a suspeita da Igreja ao aspecto científico/investigativo de Aristóteles, conforme sugerido pelo texto.
- B: Diz que Aristóteles declarava a inexistência de Deus. Isso é historicamente incorreto. Aristóteles falava de um "Motor Imóvel", uma causa primeira, o que não é ateísmo, embora diferente do Deus pessoal cristão. A suspeita não era sobre ateísmo.
- C: Alega que Aristóteles criticava a Igreja Católica. Isso é um anacronismo. Aristóteles viveu séculos antes de Cristo e da formação da Igreja Católica como instituição medieval.
- D: Sugere que Aristóteles evocava religiões orientais. Aristóteles era um filósofo grego, sua obra pertence à tradição filosófica ocidental.
- E: Afirma que Aristóteles contribuía para sentimentos antirreligiosos através de sua teoria política. Embora a filosofia aristotélica aborde a política, a principal fonte de tensão com a Igreja medieval não era sua teoria política, mas sim sua metafísica, sua cosmologia e sua abordagem do conhecimento (epistemologia) e do mundo natural, que precisaram ser harmonizadas com a doutrina cristã por pensadores como Tomás de Aquino.
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Conclusão: A alternativa A é a que melhor se alinha com a informação do texto. A suspeita da Igreja em relação a Aristóteles estava ligada ao seu foco no mundo natural e na investigação racional/empírica ("ciências naturais"), que poderiam entrar em conflito com dogmas religiosos estabelecidos antes da síntese Tomista.
Dicas
Erros Comuns
Revisão Conceitual
- Filosofia Medieval: Período da história da filosofia ocidental que se estendeu aproximadamente do século V ao século XV. Caracterizou-se pela tentativa de conciliar a fé cristã com a razão filosófica herdada da Antiguidade Clássica (principalmente Platão e Aristóteles).
- Santo Agostinho (354-430): Um dos mais importantes filósofos e teólogos do início da Idade Média. Sua filosofia foi fortemente influenciada pelo Neoplatonismo e buscou integrar a razão filosófica à fé cristã, enfatizando a iluminação divina como fonte do conhecimento verdadeiro.
- Aristóteles (384-322 a.C.): Filósofo grego antigo, discípulo de Platão. Sua obra abrangeu lógica, metafísica, ética, política, retórica, física, biologia, etc. Valorizava a observação empírica e a lógica como ferramentas para o conhecimento.
- Escolástica: Corrente filosófico-teológica dominante na Idade Média, especialmente a partir do século XI. Buscava, através de um método rigoroso (disputas, comentários de textos), harmonizar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, frequentemente utilizando a filosofia de Aristóteles.
- São Tomás de Aquino (1225-1274): Principal expoente da Escolástica. Realizou uma grandiosa síntese entre a filosofia aristotélica e a teologia cristã, argumentando que fé e razão não são contraditórias, mas complementares, ambas originadas em Deus. Sua obra foi fundamental para a aceitação de Aristóteles pela Igreja.
- Relação Fé e Razão: Um tema central na filosofia medieval. Questionava-se como conciliar as verdades reveladas pela fé (Bíblia, doutrina da Igreja) com as verdades alcançadas pela razão humana (filosofia, ciência). Pensadores como Tomás de Aquino buscaram uma harmonia, enquanto outros enfatizaram a superioridade da fé ou a separação dos domínios.
- Dogma Religioso: Ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa, considerado uma verdade revelada e que não pode ser questionado pelos fiéis. A filosofia natural de Aristóteles, baseada na observação e razão, podia parecer desafiar certos dogmas quando interpretada de forma literal ou sem a devida adaptação teológica.
