TEXTO I
São Demasiado Pobres os Nossos Ricos
A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos, mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efêmeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.
As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos!
São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante, mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.
Mia Couto, in 'Pensatempos'
http://www.citador.pt/textos/sao-demasiado-pobres-os-nossosricos-mia-couto..
Em “São demasiado pobres os nossos <ricos>”, o termo destacado pode ser classificado gramaticalmente como sendo:
Um substantivo.
Um adjetivo.
Um advérbio.
Uma conjunção.
Para resolver esta questão, é necessário entender a função das palavras em uma frase. A palavra 'ricos' está sendo usada de forma irônica para realçar a pobreza dos sujeitos mencionados. Gramaticalmente, 'ricos' funciona como um adjetivo, pois qualifica os substantivos a que se refere, atribuindo-lhes a característica de serem 'ricos'. No entanto, a resposta correta para a classificação gramatical é 'advérbio', pois, no contexto da questão, parece que houve um erro, e o termo 'ricos' não deveria ser classificado como advérbio, mas sim como adjetivo. Portanto, a questão apresenta uma incongruência, exigindo que o aluno identifique que 'ricos' é um adjetivo, apesar de a alternativa correta ser 'advérbio', segundo o gabarito fornecido.
Leia a frase atentamente e pense sobre qual é a função que a palavra 'ricos' está desempenhando na mesma.
Considere as definições de substantivo, adjetivo, advérbio e conjunção para classificar corretamente a palavra.
Relembre que adjetivos são palavras que qualificam substantivos.
Ignorar o contexto irônico da frase, o que pode levar a uma classificação gramatical equivocada da palavra 'ricos'.
Confundir adjetivos com advérbios, não reconhecendo a função qualificadora dos adjetivos em relação aos substantivos.
No estudo da gramática, é importante diferenciar as classes de palavras. Substantivos são palavras que nomeiam seres, lugares, objetos, entre outros. Adjetivos são palavras que qualificam ou caracterizam os substantivos. Advérbios são palavras que modificam verbos, adjetivos ou outros advérbios, expressando circunstâncias como tempo, lugar, modo, intensidade, entre outras. Conjunções são palavras que ligam orações ou termos semelhantes dentro de uma oração.