O superpoder da tecnologia e seus impactos
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A cada nova tecnologia que surge e passa a ser incorporada ao nosso dia a dia, o ser humano reajusta seus hábitos, seus modos de consumir informação e produtos e seus modos de se divertir.
Os poderes que as tecnologias mais modernas nos dão – de processamento ultrarrápido de dados, comunicação quase instantânea com o mundo inteiro, conhecimento da geolocalização com alta precisão etc. – são comparáveis aos de muitos super-heróis.
Mas se, por um lado, a tecnologia nos dá habilidades sobre-humanas, ela também pode trazer consequências profundas para nossa vida.
Embora seja difícil investigar cientificamente fenômenos muito recentes, já existem pesquisas científicas e relatos de pesquisadores, médicos, psicólogos e demais estudiosos sobre os impactos negativos de usos problemáticos das tecnologias na saúde física e mental da população.
Os celulares começaram a ser comercializados na década de 1980, com o único objetivo de ser um dispositivo de telefonia móvel que pudesse ampliar nossas capacidades de comunicação. Já na década 1990, os primeiros smartphones, com funções além da ligação telefônica, começaram a surgir.
Atualmente, uma pessoa pode utilizar o celular para jogar (com qualidade cada vez maior), ouvir músicas, acessar redes sociais, navegar na internet, orientar-se espacialmente por meio de mapas, tirar fotos, assistir séries e filmes, ler livros, pagar contas e fazer transferências bancárias, pedir lanches ou transporte por aplicativo etc. Essa enorme convergência tecnológica, que embutiu diversas outras tecnologias dentro do aparelho celular, fez dele um item indispensável para grande parcela da população e o tornou tão íntimo que até durante o banho o dispositivo costuma acompanhar seu dono.
Nesse contexto, o apego emocional ao aparelho e às suas funções tornou cada vez mais difícil a separação entre uma pessoa e seu celular, a ponto de passar a ser um problema nas salas de aula, no trânsito e até no ato de atravessar uma rua.
Os smartphones também provocaram uma importante alteração nos hábitos dos indivíduos. Hoje, são muitas as pessoas que vão a shows e os assistem pela tela do celular, enquanto filmam o espetáculo, ou que vão às confraternizações e se isolam para socializarem virtualmente.
Uma vez que o celular se tornou um símbolo de bem-estar, de conexão com o mundo e até de fuga social, a sua ausência passou a ser um fator causador de ansiedade e estresse. Pesquisas científicas detectaram correlação entre o uso problemático de celulares e ansiedade, estresse crônico e depressão.
A simples proximidade do aparelho pode ser uma distração tentadora, levando as pessoas ao abandono de uma atividade que estejam fazendo ou à multitarefa. Pesquisas também apontam os impactos negativos do uso excessivo do celular no desempenho educacional.
É difícil dizer com exatidão o que faz com que o celular impacte negativamente o desempenho escolar e profissional, mas podemos elencar algumas causas potenciais: a distração gerada pelas notificações; o medo de ficar desatualizado ou ficar de fora do que está acontecendo no mundo virtual (também conhecido como “FOMO” ou, em inglês, “fear of missing out”); a utilização do celular como fuga e procrastinação das tarefas (fenômeno denominado “cyberslacking”); e a crescente dificuldade de lidarmos com os microtédios diários que experimentamos, já que o celular está sempre à disposição e oferece um rápido alívio desse sentimento, deixando-nos menos aptos a lidar com tédios e desprazeres maiores.
Essa inseparável ligação entre o humano e sua máquina portátil acabou levando à elaboração do conceito de nomofobia, uma contração do termo em inglês no-mobile phobia (em tradução livre, “fobia pela ausência do celular”). Assim, a nomofobia caracteriza-se por um medo desproporcional (ou angústia) de ficar sem o celular ou de ficar desconectado do mundo virtual.
Além da nomofobia, outras condições relativas ao uso frequente do celular estão sendo reportadas por médicos e pesquisadores, embora não se saiba ainda se são condições malignas ou benignas, ou se podem levar a outros sintomas. Uma dessas condições é a “síndrome da vibração fantasma”, que consiste em uma falsa percepção de que o seu celular está vibrando no seu bolso. Similarmente, há a “síndrome do toque fantasma”, condição na qual o indivíduo tem a falsa percepção de que seu celular está tocando. E fala-se ainda da “ansiedade pelo toque de celular” (ou “ringxiety”, em inglês), que consiste em um quadro de ansiedade ao ouvir qualquer toque de celular e em achar que todo toque de celular é do próprio aparelho.
Pesquisas sobre celular e saúde mental ainda são incipientes e pouco conclusivas, mas a variedade de estudos sobre o assunto já nos dá pistas de que o uso compulsivo do aparelho pode representar uma perda na qualidade de vida e no bem-estar do indivíduo.
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(MIRANDA, Lucas Mascarenhas de. O superpoder da tecnologia e seus impactos. Ciência Hoje, 2022. Disponível em https://cienciahoje.org. br/artigo/o-superpoder-da-tecnologia-e-seus-impactos/. Acesso em: 06/11/2022. Adaptado.)
Em qual alternativa o emprego do acento indicativo de crase é facultativo, considerando as prescrições da norma culta escrita?
“[...] já que o celular está sempre à disposição e oferece um rápido alívio desse sentimento [...]” (11º§)
“[...] levando as pessoas ao abandono de uma atividade que estejam fazendo ou à multitarefa.” (10º§)
“Nesse contexto, o apego emocional ao aparelho e às suas funções tornou cada vez mais difícil a separação [...]” (7º§)
“[...] enquanto filmam o espetáculo, ou que vão às confraternizações e se isolam para socializarem virtualmente.” (8º§)
“Essa inseparável ligação entre o humano e sua máquina portátil acabou levando à elaboração do conceito de nomofobia [...]” (12º§)