Em O Antigo Regime e a revolução (1856), Alexis de Tocqueville investiga as causas que levaram à Revolução Francesa. No capítulo IV, intitulado “Como quase toda a Europa teve precisamente as mesmas instituições e como essas instituições caíam em ruína por toda parte”, o autor afirma:
[A realeza] nada mais tem em comum com a realeza medieval: possui ou traz prerrogativas, ocupa um outro lugar, tem um outro espírito, inspira outros sentimentos. É a administração do Estado estendendo-se por toda parte sobre os escombros dos poderes locais. É a hierarquia dos funcionários substituindo de maneira crescente o governo dos nobres. [...] Esquecendo os velhos nomes e afastando as velhas formas, encontraremos, desde o século XVII, o sistema feudal abolido em sua substância, [...] a riqueza tornada poder, a igualdade dos encargos, a igualdade perante a lei, a publicidade dos debates, ou seja, princípios novos que a sociedade medieval ignorava.
TOCQUEVILLE, Alexis de. O Antigo Regime e a revolução. 4ª. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.
VOVELLE, Michel. Breve história da revolução francesa. Lisboa: Editorial Presença, 1986.
Ao analisar a Revolução Francesa e com base nas observações de Tocqueville, é CORRETO afirmar que
A realeza mantinha seu poder intocado às vésperas da Revolução, graças à manutenção da ordem jurídica e da introdução da centralização administrativa.
A nobreza foi hábil ao usar o fortalecimento do poder do Estado e a centralização administrativa como meios de manter seu poder de fato sobre os outros estratos da sociedade.
O declínio do poder feudal foi compensado, do ponto de vista da nobreza, pela uso do aparato do Estado a seu favor, por meio do emprego público e da igualdade de oportunidades econômicas.
As instituições feudais, ainda que mantivessem sua aparência formal no século XVIII, desempenhavam funções desconhecidas na Idade Média, resultado do enfraquecimento da nobreza, da ascensão burguesa e da centralização administrativa.
As prerrogativas jurídicas e o status político da nobreza impediram sua decadência econômica, graças a novos procedimentos e práticas ignorados na Idade Média.