UPE 2015

Em agosto de 2005, a Revista Língua fez uma entrevista com Millôr Fernandes, o escritor escolhido para ser o homenageado da FLIP 2014. Eis, aqui, alguns trechos dessa entrevista.

 

(1) Língua – Fazer humor é levar a sério as palavras ou brincar com elas?

Millôr – Humor, você tem ou não tem. Pode ser do tipo mais profundo, mais popular, mas tem de ter. Você vai fazendo e, sem querer, a coisa sai engraçada. Dá para perceber quando a construção é forçada. Tenho uma capacidade muito natural de perceber bobagem e destruir a coisa.

 

(2) Língua – Com que língua você mais gosta de trabalhar?

Millôr – Não aprendi línguas até hoje (risos). Gosto de trabalhar com o português, embora inglês seja a que eu mais leio. Nunca tive temor de nada. Deve-se julgar as obras pelo que elas têm de qualidade, não por serem de fulano ou beltrano. Shakespeare fez muita besteira, mas tem três ou quatro obras perfeitas,  e Macbeth é uma delas.

(3) Língua – Na sua opinião, quais vantagens o português possui em comparação a outras línguas  que você conhece?

Millôr – A principal vantagem é a de ser a minha língua. Ninguém fala duas línguas. Essa ideia de um espião que fala múltiplas línguas não passa de mentira. Vai lá no meio do jogo dizer “salamê minguê, um sorvete colorê...” ou “velho guerreiro”. Os modismos da língua, as coisas ocasionais, não são acessíveis a quem não é nativo. Toda pessoa tem habilidade só no seu idioma. Você pode aprender uma, dez, sei lá quantas expressões de outra língua, mas ainda existirão outras mil – como é que se vai fazer? A língua portuguesa tem suas particularidades. Como outras também. Aprendi desde cedo a ter o cuidado de não rimar ao escrever uma frase. Sobretudo em “-ão”.

(4) Língua – Quais as normas mais loucas ou mais despropositadas da língua portuguesa?

Millôr – Toda pesquisa de linguagem é perigosa porque tem o caráter de induzir o sentido. Não tenho nenhum carinho especial por gramáticos. Na minha vida inteira sempre fui violento [no ataque às regras do idioma], porque a língua é a falada, a outra é apenas uma forma de você registrar a fala. Se todo mundo erra na crase é a regra da crase que está errada, como aliás está. Se você vai a Portugal, pode até encontrar uma reverberação que indica a crase. Não aqui. Aqui, no Brasil, a crase não existe.

(5) Língua – Mas a fala brasileira é mutante e díspar, cada região tem sua peculiaridade. Como romper regras da língua sem cair no vale-tudo?

Millôr – Se não houver norma, não há como transgredir. A língua tem variantes, mas temos de ensinar a escrever o padrão. Quem transgride tem nome ou peito, que o faça e arque com as consequências. Mas insisto que a escrita é apenas o registro da língua falada. De Machado de Assis pra cá, tudo mudou. A língua alemã fez reforma ortográfica há 50 anos, correta. Aqui, na minha geração, já foram três reformas do gênero, uma mais maluca que a outra. Botaram acento em “boemia”, escreveram “xeque” quando toda língua busca lembrar o árabe shaik, insistiram que o certo é “veado” quando o Brasil inteiro pronuncia “viado”. Como chegaram a tais conclusões? Essas coisas são idiotas e cabe a você aceitar ou não. Veja o caso da crase. A crase, na prática, não existe no português do Brasil. Já vi tábuas de mármore com crase errada. Se todo mundo erra, a crase é quem está errada. Se vamos atribuir crase ao masculino “dar àquele”, por que não fazer o mesmo com “dar alguém”? Não podemos.


Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/97/millor-fernandeso-senhor-das-palavras-247893-1.asp. Acesso em: 13/06/2014. Adaptado.

Acerca da flexão de alguns dos verbos empregados no Texto 2, assinale a alternativa CORRETA.

a

Nos trechos: “Você vai fazendo” (Bloco 1) e “Não podemos” (Bloco 5), as formas verbais sublinhadas indicam que os processos verbais expressos foram concluídos.

b

No trecho: “Gosto de trabalhar com português, embora inglês seja a que eu mais leio.” (Bloco 2), o modo indicativo da forma verbal sublinhada é requerido pela conjunção “embora”.

c

No trecho: “Como é que se vai fazer?” (Bloco 3), percebe-se o emprego de dois verbos (sublinhados) para indicar um tempo situado em momento futuro.

d

Em: “Se não houver norma, não há como transgredir.” (Bloco 5), a forma verbal sublinhada assinala uma afirmação categórica, ou seja, expressa uma certeza.

e

Em: “Botaram acento em ‘boemia’, escreveram ‘xeque’” (Bloco 5), a maneira como estão pluralizadas as formas verbais destacadas indica uma ação ainda por acontecer.

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