Em 2019, Dorrico [...] lançou “Eu sou Macuxi e outras histórias” (Caos e Letras). Em um dos contos, ela “vira o jogo”: transforma o Deus dos homens brancos em um caçula dos deuses dos povos da floresta. Um troco a Mário de Andrade, que transformou o deus dela em um herói peculiar.
(Marcos Cândido. “Nova colunista da Ecoa leva literatura indígena a milhares de seguidores”. https://uol.com.br, 09.03.2021.)
A escritora Julie Dorrico é descendente do povo Macuxi que, atualmente, vive na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A cosmogonia dos Macuxi relata que eles são descendentes do herói mítico Macunaíma.
Pode-se considerar o conto em que a escritora “vira o jogo” contra Mário de Andrade, autor de Macunaíma, como
a manifestação do desejo de produzir uma literatura indígena incompreensível fora do universo social dos povos da floresta.
o reconhecimento das limitações artísticas de nações indígenas submetidas secularmente ao domínio da sociedade branca.
o estabelecimento de um diálogo criativo da visão de mundo indígena com as expressões culturais de origem europeia.
a procura de inspiração literária no patrimônio civilizacional indígena desprovido de conteúdos culturais de outros povos.
a expressão da incompatibilidade entre a transmissão oral das narrativas mitológicas das nações indígenas e os textos escritos.