“[...] Em 1970 o presidente do Banco Mundial [...] recomendava o uso da pílula como o remédio necessário para curar a miséria [...] do Terceiro Mundo. No Brasil tudo isso era traduzido e encampado pela Bemfam. Num boletim (de) 1973, (dizia) que era preciso frear no Brasil a proliferação da ‘infância abandonada economicamente’ que contribui ‘para uma maior poluição, não só sanitária, como também social, que se reflete nos índices de criminalidade’.”
ARAÚJO, Paulo César de. Eu não sou cachorro, não. Música popular cafona e Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 63.
Em 1973, o cantor e compositor Odair José gravou uma canção conhecida como “Pare de tomar a pílula”, que foi censurada repentinamente pela Ditadura Civil-Militar que, junto da Bemfam, promovia ações de controle de natalidade, notadamente entre populações de baixa renda no país.
A censura à canção de Odair José se relaciona a uma:
argumentação antissocial, pois o objetivo de distribuição de pílulas estava diretamente relacionado à preocupação mundial com a proliferação da miséria.
atitude de desrespeito às instruções governamentais, que recebia a ajuda de laboratórios norte-americanos em sua campanha de controle de natalidade.
Posição inconsequente do autor, diante dos altos índices de criminalidade no país, que, com sua música, estimulava o nascimento de mais criminosos.
postura nacionalista e moralista do compositor, lançando uma música para denunciar o acordo do governo ditatorial com os laboratórios norte-americanos.