ENEM 2016 terceira aplicação
É hoje a nossa festa nacional. O Brasil inteiro, da capital do Império a mais remota e insignificante de suas aldeolas, congrega-se unânime para comemorar o dia que o tirou dentre as nações dependentes para colocá-lo entre as nações soberanas, e entregou-lhe os seus destinos, que até então haviam ficado a cargo de um povo estranho.
Gazeta de Notícias, 7 set. 1883.
As festividades em torno da Independência do Brasil marcam o nosso calendário desde os anos imediatamente posteriores ao 7 de setembro de 1822. Essa comemoração está diretamente relacionada com
a construção e manutenção de símbolos para a formação de uma identidade nacional.
o domínio da elite brasileira sobre os principais cargos políticos, que se efetivou logo após 1822.
os interesses de senhores de terras que, após a Independência, exigiram a abolição da escravidão.
o apoio popular às medidas tomadas pelo governo imperial para a expulsão de estrangeiros do país.
a consciência da população sobre os seus direitos adquiridos posteriormente à transferência da Corte para o Rio de Janeiro.
Resolução
A questão aborda o significado e a função das comemorações da Independência do Brasil, iniciadas logo após o evento de 7 de setembro de 1822. Para resolvê-la, devemos analisar o texto de apoio e conectar seu conteúdo com o enunciado e as alternativas.
1. Análise do Texto de Apoio: O texto, datado de 1883, descreve a comemoração do 7 de Setembro como uma "festa nacional" que une o "Brasil inteiro", desde a capital até a "mais remota e insignificante de suas aldeolas". Ele enfatiza a unanimidade ("congrega-se unânime") e o propósito da celebração: comemorar o dia em que o Brasil deixou de ser uma nação dependente para se tornar uma nação soberana, tomando controle de seus próprios destinos. O texto ressalta, portanto, a unidade nacional e a soberania conquistada.
2. Análise do Enunciado: O enunciado afirma que as festividades da Independência são parte do calendário desde os anos seguintes a 1822 e pergunta com o que essa comemoração está "diretamente relacionada". Ou seja, busca-se a principal função ou significado dessas celebrações.
3. Avaliação das Alternativas:
- Alternativa A: Sugere que a comemoração está relacionada à "construção e manutenção de símbolos para a formação de uma identidade nacional". Isso se alinha perfeitamente com o texto e o contexto histórico. A celebração de uma data fundadora como a Independência, de forma unificada (como descrito no texto), é uma maneira clássica de criar e reforçar símbolos (a data, o evento, heróis associados) que ajudam a forjar um sentimento de pertencimento comum, ou seja, uma identidade nacional. A passagem de "nação dependente" para "nação soberana" é o cerne simbólico dessa identidade que se busca construir.
- Alternativa B: Relaciona a festa ao "domínio da elite brasileira sobre os principais cargos políticos". Embora a elite tenha dominado a política pós-independência, a *comemoração* em si, como descrita no texto (unânime, nacional), tinha um propósito simbólico mais amplo de unificação e legitimação do novo Estado, e não era *diretamente* uma celebração do poder da elite.
- Alternativa C: Afirma que a festa se liga aos interesses de senhores de terras que exigiam a abolição. Isso é historicamente incorreto. A elite agrária, baseada na mão de obra escrava, foi majoritariamente contrária à abolição nas décadas seguintes à Independência.
- Alternativa D: Conecta a comemoração ao "apoio popular às medidas [...] para a expulsão de estrangeiros". Embora houvesse sentimento antilusitano, a comemoração da Independência tinha um foco mais amplo na afirmação da soberania e na construção da nação, não especificamente na expulsão de estrangeiros. O texto enfatiza a união interna e a soberania perante o exterior.
- Alternativa E: Liga a festa à "consciência da população sobre os seus direitos adquiridos posteriormente à transferência da Corte". A transferência da Corte ocorreu em 1808, e a Independência em 1822. A celebração do 7 de Setembro foca no marco de 1822 e na construção da nação soberana, não especificamente na consciência de direitos ligados a 1808.
4. Conclusão: A alternativa A é a que melhor descreve a função primordial da comemoração da Independência: servir como um ritual cívico para construir e manter símbolos (a data, o evento, a soberania) essenciais para a formação de uma identidade nacional coesa, unindo simbolicamente a população em torno de um marco fundador, como o texto de 1883 ilustra.
Dicas
Erros Comuns
Revisão de Conceitos
- Independência do Brasil (1822): Processo que culminou na separação política entre Brasil e Portugal, estabelecendo o Império do Brasil sob D. Pedro I. Foi um passo fundamental na formação do Estado-nação brasileiro.
- Formação da Identidade Nacional: Processo histórico, social e cultural pelo qual os habitantes de um território desenvolvem um sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional, compartilhando símbolos, valores, história e cultura. Após a independência, era crucial para o novo Estado brasileiro criar e disseminar elementos que promovessem essa identidade e unidade.
- Símbolos Nacionais: Elementos (datas cívicas, hinos, bandeiras, heróis, monumentos) que representam a nação e seus valores, servindo para unificar a população e reforçar a identidade coletiva. As comemorações da Independência são um exemplo de ritual que utiliza a data como símbolo da nação.
- Estado-Nação: Forma de organização política moderna caracterizada por um território definido, uma população com senso de identidade comum (nação) e um governo soberano. A construção da identidade nacional é essencial para a consolidação do Estado-nação.
