"[...] Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.
[...]”
ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é o romance com o qual Machado de Assis inaugura o Realismo no Brasil, cujo narrador protagonista conta as suas memórias depois de morto, sendo também o responsável pela caracterização das demais personagens.
As narrativas machadianas fazem, com frequência, um jogo temporal, oscilando as ações entre o cronológico e o psicológico.
Considerando o texto base, é correto afirmar que o fragmento apresenta:
Não apresenta marca de tempo, nem cronológico, muito menos psicológico.
Marcas exclusivamente do tempo psicológico, constituindo-se um tempo interno e individual, com influência de emoções e sentimentos.
Não apresenta marcas do tempo cronológico.
Marcas do tempo cronológico e do tempo psicológico.
Marcas do tempo cronológico, pois é o tempo real, aquele marcado pelo calendário e pelo relógio.