Depois de receber o aviso [de demissão] foi ao banheiro para ficar sozinha porque estava toda atordoada. Olhou-se maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe que o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário: o nariz tornado enorme como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem.
(Clarice Lispector. A hora da estrela, 1998.)
Considerando o contexto do romance, o trecho poderia ser interpretado como uma alegoria da
repulsa de Macabéa à sociedade.
ânsia de Macabéa por isolamento.
insignificância social de Macabéa.
vaidade ingênua de Macabéa.
inclinação de Macabéa à futilidade.