“Depois de esfolado, toma-o um homem e corta-lhes as pernas, acima dos joelhos, e os braços, junto ao corpo. Vêm então as quatro mulheres, apanham os quatro pedaços, comem com eles em torno das cabanas, fazendo grande alarido, em sinal de alegria”.
Hans Staden, 1557
“E são tão cruéis e bestiais, que assim matam aos que nunca lhes fizeram mal, clérigos, frades, mulheres (...). Sujeitando-se o gentio (...), terão os homens escravos legítimos, tomados em guerras justas”.
Padre Manoel da Nóbrega, 1558
“Fui a outra aldeia de 150 casas e fiz ajuntar os moços (...). Achei alguns aqui mui hábeis e de tal capacidade que bem ensinados e doutrinados podiam fazer muito fruto, para o que temos necessidade de um colégio nesta Bahia para ensinar os filhos dos índios”.
Padre Azpicuelta Navarro, 1551
Sobre as concepções dos colonizadores europeus acerca das populações indígenas com as quais se depararam na América, examine as afirmativas abaixo:
I - A criação de escolas e os aldeamentos missionários preparavam os índios para viver em Portugal.
II - O canibalismo, ao lado do incesto e da nudez, demonstrava a sua falta de humanidade.
III - Os costumes demoníacos e a irreligiosidade justificavam a sua escravização.
IV - A vida desregrada e os costumes exóticos justificavam o extermínio dos nativos em guerras justas.
Assinale a alternativa CORRETA.
Somente I e II são corretas.
Somente III e IV são corretas.
Somente I e IV são corretas.
Somente II e III são corretas.
Somente I e III são corretas.
Nesta questão, temos trechos de cronistas e missionários do século XVI que mostram diversas visões dos colonizadores sobre os povos nativos no Brasil. Em geral, descreviam práticas como canibalismo e nudez como sinais de barbárie, reforçando a ideia de que os indígenas precisavam ser catequizados e civilizados. Assim, a ideia de falta de humanidade (por conta de costumes vistos como demoníacos ou imorais) era usada para justificar tanto a escravização quanto as chamadas guerras justas. Entretanto, as missões jesuíticas não preparavam os indígenas para viver em Portugal, mas sim para serem doutrinados na fé cristã, residindo em terras brasileiras, o que torna incorreta a afirmativa I. Além disso, apesar de haver o objetivo de subjugar e controlar os nativos (inclusive pela escravidão), não era comum justificar o extermínio puro e simples (IV). Portanto, são corretas apenas as afirmativas II e III — correspondendo à alternativa D.
Contato entre colonizadores e indígenas: Na fase inicial da colonização do Brasil, os europeus, principalmente portugueses, desenvolveram diferentes percepções sobre os povos nativos. O choque cultural, em aspectos como religião, costumes e organização social, foi interpretado pelos europeus a partir de seu próprio referencial, muitas vezes taxando práticas como canibalismo de "falta de humanidade" e justificando a necessidade de "catequese" e, em certos casos, a escravização.
Missões jesuíticas: Os jesuítas criaram aldeamentos e colégios com o intuito de converter e doutrinar os indígenas, ensinando o cristianismo, a língua portuguesa e costumes europeus. Entretanto, o foco não era formar os indígenas para viver em Portugal, mas inseri-los na lógica colonial no próprio território brasileiro.