Débora. O nome já é um atestado de saúde, com suas vogais explosivas. Ela tem dezenove anos e faz sensação na praia com seu corpão que o biquíni só tapa aqui e alizinho. Os seios transbordam. Com cada uma de suas pernas daria para fazer outra mulher, e que mulher! Ela corre na praia diariamente, faz surf e musculação e contam que todos os dias, no almoço, come um homem dos pequenos. E deu bola para o Pio.
O Pio, que recebeu este nome da mãe religiosa, mas o desmente desde os treze anos, mal pôde acreditar. Os amigos o incentivaram: “Vai nessa”. Mas com uma condição. Tinha que contar tudo. Mulher como aquela tinha que ser compartilhada, mesmo que fosse só contando. Por uma elementar questão de justiça social. Débora e Pio começaram a namorar.
(Luís Fernando Veríssimo. “Emoção”)
O autor utiliza diferentes recursos para apresentar a personagem Débora. Um dos recursos que enaltecem a beleza do corpo da personagem é
o contraste entre sua beleza delicada e seu comportamento bruto.
a sonoridade de todos os fonemas que compõem seu nome.
a oposição entre o físico bem torneado e a pequenez do biquíni.
a vulgaridade da jovem que se expõe na praia.
a sua caracterização como inacessível.