Daí vem que o romântico mergulhe cada vez mais na própria alma, a examinar-lhe mórbida e masoquistamente os desvãos, com o intento único de revelá-la e confessála. E, embora confesse tempestades íntimas de fraquezas sentimentais, experimenta um prazer agridoce em fazê-lo, certo da superior dignidade do sofrimento. (...)
(Moisés, Massaud. A Literatura Portuguesa, 22.ª edição.Editora Cultrix, 1986, pág. 143)
Os comentários acima se referem a alguns dos princípios do Romantismo. Os aspectos desse enfoque só NÃO podem ser encontrados em:
Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhões adoro e beijo.
(Bocage)
Negras mulheres suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães.
(Castro Alves)
(...) Ouvi a notícia da tua próxima morte, e
então compreendi por que estou morrendo
hora a hora. Aqui está o nosso fim, Simão!...
Olha as nossas esperanças! Quando tu me
dizias os teus sonhos de felicidade, e eu te
dizia os meus!... Que mal tiniam a Deus os
nossos inocentes desejos?!... (...)
(Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição)
Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há de apagar?
(Almeida Garrett)
Ao entardecer, quando a tristeza caía do céu, como um luto de almas não já desditosas, mas ainda raiadas do íris da esperança, confrangeram-se-me em dor inefável as fibras do coração, dor de saudade voracíssima, saudade de Palmira, desejo ardente de vê-la não sei se para cair-lhe de joelhos aos pés, se para escarrar-lhe no rosto. (...)
(Camilo Castelo Branco, Amor de Salvação)