Conto e Cura
A criança está doente. A mãe a leva para cama e se senta ao lado. E então começa a lhe contar histórias. Como se deve entender isso? Já se sabe como o relato que o paciente faz ao médico no início do tratamento pode se tornar o começo de um processo curativo. Daí vem a pergunta se a narração não formaria o clima propício e a condição mais favorável de muitas curas, e mesmo se não seriam todas as doenças curáveis se apenas se deixassem flutuar para bem longe – até a foz – na correnteza da narração. Se imaginamos que a dor é uma barragem que se opõe à corrente da narrativa, então vemos claramente que é rompida onde sua inclinação se torna acentuada o bastante para largar tudo o que encontra em seu caminho ao mar do ditoso esquecimento. É o carinho que delineia um leito para essa corrente.
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas II. São Paulo: Brasiliense, 1995. Fragmento adaptado.
Na frase “É o carinho que delineia um leito para essa corrente”, o sentido do trecho em destaque recupera a comparação da narrativa com
o curso de um rio.
a imaginação da dor.
a superação da doença.
o predomínio da memória.