Considerando o texto abaixo, é correto dizer:
“Nos Estados Unidos a ideia de comunidade está fundada na igualdade e homogeneidade de todos os seus membros, aqui concebidos como cidadãos. Quer dizer: a comunidade pode ser concebida como igualitária porque não seria feita de famílias, parentelas e facções que objetiva e efetivamente têm propriedades, estilos e tamanhos e interesses diferentes, mas de indivíduos e cidadãos. No Brasil, por contraste, a comunidade é necessariamente heterogênea, complementar e hierarquizada. Sua unidade básica não está baseada em indivíduos (ou cidadãos), mas em relações e pessoas famílias e grupos de parentes e amigos. Sendo assim, nos Estados Unidos, o indivíduo isolado conta como uma unidade positiva do ponto de vista moral e político; mas no Brasil o indivíduo isolado e sem relações, a entidade política indivisa, e algo considerado altamente negativo, revelando apenas a solidão de um ser humano marginal em relação aos outros membros da comunidade. Realmente, o que mais chama a atenção no caso brasileiro é essa capacidade de relacionar numa corrente comum não só pessoas, partidos e grupos, mas também tradições sociais e políticas diferentes. A comunidade norteamericana seria homogênea, igualitária, individualista e exclusiva; no Brasil ela seria heterogênea, desigual, relacional e inclusiva. Num caso o que conta é o indivíduo e o cidadão; noutro, o que vale é a relação”.
(DAMATTA, Roberto. A Casa & A Rua: Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 77-78).
Movimentos recentes da sociedade civil americana como o Occupy Wall Street representam inequívoca mudança para uma sociedade relacional, tal como retratado no texto acima.
A ideia de individualismo cidadão no Brasil faz com que os níveis de exigência para com a classe política se percebam em muito maior escala do que no resto do mundo, fazendo os parlamentares brasileiros os mais mal pagos do planeta.
A ideia de um “destino manifesto” a ser cumprido pelo Brasil embasa a postura individualista do cidadão brasileiro, contrastando com a postura americana.
A “sociedade de relações” (familiares, de compadrio etc.) existente no Brasil é uma das causas da baixa eficácia das reivindicações cidadãs.
A sociedade brasileira, ao trazer a marca da inclusividade relacional, mostra-se mais justa e equitativa no oferecimento de oportunidades para seus cidadãos do que a sociedade americana.