Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste. E, falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever. Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as ideias não vêm, ou vêm muito numerosas – e a folha permanece meio escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o papel.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 27. ed. Rio de Janeiro: Record, 1977. p. 92.
O personagem narrador
revela uma concepção determinista do comportamento humano.
evidencia um conhecimento pleno das qualidades da amada.
considera o ato de escrever como decorrente da pressão de fatores externos.
mostra-se consciente da importância de sua narrativa para a sua trajetória de escritor.
sugere que o seu relacionamento amoroso com a amada foi marcado pela confiança mútua.