As questões (11) e (12) referem-se ao texto abaixo.
Teoria das Cores
Herberto Helder
Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido à chegada do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia o que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor – sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro, através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.
HELDER, Herberto. Os Passos em Volta. Lisboa: Cooperativa Editora e Livreira, CRL, 1994.
Compare o conto “Teoria das cores”, de Herberto Helder, a esta tela do pintor francês René Magritte.
Disponível em: https://www.renemagritte.org/la-clairvoyance.jsp. Acesso em: 28 abr. 2022.
O pintor representado no conto e o retratado na imagem têm em comum o fato de
pintarem, em suas obras, imagens diferentes daquelas que veem no mundo real.
expressarem sentimentos advindos do mundo interior e da imaginação.
considerarem a arte a forma de o homem denunciar seus anseios.
utilizarem a pintura para criar uma aproximação em relação ao real.
buscarem na natureza inspiração para o fazer artístico.