Como todas as revoluções das vanguardas históricas, o Futurismo traduz logo nos seus primeiros textos o grito de ruptura de uma classe que não deseja mais pactuar com a estabilidade do sistema. Mas o grito de ruptura é dado com os elementos e valores típicos do mesmo grupo contestado. Os elementos “perigo”, “velocidade”, “energia”, “audácia”, “revolta”, “bofetada”, “soco” – inicialmente propostos com a finalidade de traduzir o vitalismo antiburguês do Futurismo – serão os mesmos, desenvolvidos, que levarão o movimento a concluir no fascismo.
(Sílvio Castro. Teoria e política do modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 34 e 35)
No Brasil, ocorreram ecos vanguardistas do Futurismo, tal como se pode depreender destes versos de Mário de Andrade:
Sobreviventes da pureza antiga,
as penas brancas, no debrum das asas.
No cavalo da frente o atro anjo infiel
Com façanhas de guerra se compraz.
passa galhardo um filho de imigrante
loiramente domando um automóvel!
Um luar amplo me inunda, e eu ando
Em visionária luz a nadar
Um sonho de mancebo e de poeta.
El-Dorado de amor que a mente cria