Coitada da Norma, tão culta…
– E a Norma, hein?
– O que é que tem?
– Você não soube? Anda mal falada.
– A Norma? Depois de velha? Mas ela é tão culta!
– Pois é. E com aquela pose toda, a mania de ditar regrinhas de bom comportamento, de corrigir todo mundo…
– Mas o que foi que aconteceu?
– Ora, o que aconteceu é que caiu a máscara da madame, né? Descobriram finalmente como ela é autoritária, elitista
e preconceituosa. E pior, arbitrária, totalmente desconectada da realidade.
– Puxa, eu sempre achei a Norma tão correta…
– Correta demais, aí é que está. Era para desconfiar, acho que demorou. Parece que até aqueles amigos que ela se
orgulhava de ter no ministério andam virando a cara para ela.
– Ah, coitada. Eu sinto pena.
– Pois eu acho ótimo. Nunca fiquei à vontade na presença da dona, sabia? Muitas vezes aconteceu de eu ter alguma
coisa importante para falar e ficar com medo. Preferia nem abrir a boca.
– Isso é verdade, a Norma sempre foi difícil.
– Tá vendo? Nem você, que é meio puxa‐saco, está disposto a defender a megera!
– Estou sim, defendo sim. E você? Fica aí esculachando, mas até que está se expressando direitinho, do jeito que ela
gosta.
– Eu?
– Você.
– Ah, você não viu nada, meu amigo. A gente vamos barbarizar!
Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/sobre‐palavras/cronica/coitada‐da‐norma‐tao‐culta‐2/. Acesso em 03/09/2015
O diálogo mantido pelos personagens permite uma reflexão acerca das variedades linguísticas.
Considerando o contexto em que foi empregada, a passagem “A gente vamos barbarizar!” indica que
o personagem que a proferiu caíra em contradição.
a linguagem coloquial facilitaria a comunicação.
os iletrados sentem‐se constrangidos em manifestar opiniões.
a variedade culta estaria perdendo seu prestígio.
a diversidade linguística é um fenômeno que tende a desaparecer.