Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de tia Clarinha e foi visitar tia Agostinha no Jogo da Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se muito bem. [...] Ficaram todas as tias admiradas da beleza da moça e de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito correto. Dizia "você" em vez de "ocê". Palavra que eu nunca tinha visto ninguém fala tão bem; tudo como se escreve sem engolir um s nem um r. Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela gostava de uvas. Ela respondeu: "Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha." Estas palavras nos fizeram ficar de queixo caído. Depois ela foi passear com outras e laiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia: "Vocês não tiveram inveja de ver uma moça [...] falar tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem". [...] Na hora do jatar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar laiá: "Aprecio sobremaneira as batatas fritas", "Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha".
MORLEY, H. Minha vida de menina: cadernos de uma menina provinciana nos fins do século XIX. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.
Nesse texto, no que diz respeito ao vocabulário empregado pela moça de Montes Claros, a narradora expõe uma visão indicativa de
descanso, uma vez que desaprova o uso formal da língua empregado pela moça.
ironia, uma vez que incorpora o vocabúlario formal da moça na situação familiar.
admiração, pelo fato de deleitar-se com o vocabulário empregado pela moça.
antipatia, pelo fato de cobiçar os elogios de Iaiá sobre a moça.
indignação, uma vez que contesta as atitudes da moça.
A questão pede para identificar a visão da narradora sobre o vocabulário da moça de Montes Claros, conforme exposto no texto.
1. Leitura Atenta do Texto: O texto descreve a chegada de uma moça de Montes Claros, parente da família, que impressiona as tias por sua beleza, simpatia e, principalmente, por sua maneira de falar, considerada muito correta e formal ("Falava explicado e tudo muito correto. Dizia \'você\' em vez de \'ocê\'. [...] tudo como se escreve sem engolir um s nem um r"). A narradora inicialmente registra essa impressão e a admiração das tias.
2. O Elogio e a Comparação: Uma personagem, Iaiá, elogia a moça e a usa como exemplo para criticar a fala da narradora e das primas ("Vocês não tiveram inveja de ver uma moça [...] falar tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem"). Isso introduz um elemento de comparação e possível ressentimento.
3. A Reação da Narradora: O ponto crucial está no final do texto. Durante o jantar, a narradora e as primas começam a imitar debochadamente uma frase formal dita pela moça ("Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha"), aplicando-a a alimentos comuns ("Aprecio sobremaneira as batatas fritas", "Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha"). A intenção explícita é irritar Iaiá ("para enfezar Iaiá").
4. Interpretação da Reação: Essa imitação em um contexto inadequado (jantar familiar, comida simples) e com a intenção de provocar Iaiá caracteriza o uso irônico do vocabulário formal da moça. A narradora não está expressando admiração genuína nem simples desaprovação; ela está zombando da formalidade excessiva percebida, especialmente após a comparação feita por Iaiá.
5. Análise das Alternativas:
Conclusão: A visão da narradora sobre o vocabulário da moça, manifestada principalmente pela sua ação no jantar, é de ironia, utilizando a formalidade da visitante de forma debochada em um contexto familiar e informal.
Para resolver esta questão, é importante entender: